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Este acervo é resultado da viagem do grupo A Barca por 9 estados brasileiros, em diálogo com a cultura popular de cerca de 30 comunidades.

O projeto Turista Aprendiz, selecionado em edital público e patrocinado pelo Programa Petrobras Cultural através da Lei de Incentivo à Cultura, levou A Barca a visitar quilombos, aldeias indígenas, cidades ribeirinhas, sertanejas e periferias de capitais. Além de movimentar a cultura local realizando oficinas e shows gratuitos nos mais diversos espaços, A Barca fez registros inéditos em áudio e vídeo de diversas manifestações culturais.

Gravado com excelente qualidade técnica, o material
reunido inclui 300 horas de áudio e vídeo e 6 mil fotos e revela uma cultura popular exuberante e vigorosa, onde o talento dos artistas e a vitalidade das tradições revelam diversidade e identidade em um Brasil contemporâneo. Parte do material foi finalizado na caixa Trilha, Toada e Trupé: uma coletânea de três CDs e um DVD documentário – Turista Aprendiz.

O Grupo

A Barca é um grupo de músicos de São Paulo que nasceu em 1998 de uma reunião de amigos em torno de ideias como viagem, música popular, Brasil e Mário de Andrade.

Desde o seu início, A Barca trabalha com a pesquisa e a movimentação da cultura popular brasileira, realizando um trabalho abrangente de criação de espetáculos, documentação, arte-educação e produção cultural, partindo da reflexão sobre o fazer artístico e suas responsabilidades estéticas e sociais.

A primeira viagem a campo do grupo foi em 1999 pelo projeto Universidade Solidária, quando a Barca passou por sete cidades do Pará e Maranhão, estabelecendo os primeiros diálogos culturais com grupos destas cidades, como o carimbó de Santarém Novo (PA), a Tenda S.José em Pirapemas (MA) e a Casa Fanti-Ashanti em São Luís. Em maio de 2000 o grupo lançou seu primeiro CD Turista Aprendiz pelo selo CPC-Umes. Em 2002, seu segundo CD, Baião de Princesas, foi gravado em parceria com a Casa Fanti-Ashanti, focando o repertório tradicional de um ritual específico desta casa.

De dezembro de 2004 a fevereiro de 2005, o grupo viajou mais de 10.000 km por nove estados brasileiros, do Pará a S.Paulo, realizando o projeto Turista Aprendiz, selecionado pelo Programa Petrobrás Cultural. Além de movimentar a cultura local oferecendo opções de educação e entretenimento com a realização de shows e oficinas, o grupo registrou cerca de 40 comunidades ou artistas da tradição popular, em quilombos, aldeias indígenas, periferias de grandes capitais, pequenas cidades ribeirinhas, litorâneas e sertanejas. Os shows e gravações foram realizados nos mais diversos espaços e situações e foi reunido um acervo com 300 horas de áudio e vídeo e 6 mil fotos.

Em 2006, o grupo lançou a caixa Trilha, Toada e Trupé, com três CDs e um DVD documentário, frutos do projeto Turista Aprendiz. Essa caixa reúne o melhor dos registros, em dois CDs dedicados aos grupos e artistas regionais. O terceiro CD traz gravações da Barca em estúdio e faixas ao vivo gravadas nos shows da viagem com participações desses grupos. Por fim, o DVD Turista Aprendiz apresenta a experiência toda da viagem num registro poético guiado mais uma vez por Mário de Andrade. Os shows de lançamento desta caixa aconteceram em 7 cidades do Nordeste, Rio de Janeiro e S.Paulo, reunindo alguns dos grupos registrados em temporadas de shows, cortejos e oficinas.

Em 2007, a Barca lançou a Coleção Turista Aprendiz com 7 CDs e 7 documentários em curta metragem finalizados a partir do acervo do projeto Turista Aprendiz. A caixa exibe ao público o rico repertório artístico de 7 comunidades registradas pelo projeto. Além desses registros, os laços estabelecidos com as comunidades trouxeram resultados transformadores como a criação de Pontos de Cultura, registros e acervos próprios, revitalização e visibilidade dos grupos e capacitação de produtores culturais.

Entre 2007 e 2008 a Barca realizou o projeto Trilhas, apoiado pelo PAC e pela Votorantim, visitando cidades de Minas Gerais, S.Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul com shows, oficinas e exibições dos documentários do grupo.

Em setembro de 2008, depois de mais de 300 shows por todo o país, o grupo festejou seu 10º aniversário com uma temporada de shows no Teatro Sesc Pompéia com a presença de vários grupos e mestres, entre eles, o Boi de Maracanã (MA) e o carimbó de Santarém Novo (PA).

A Barca também participou da Virada Cultural (SP), Mercado Cultural de Salvador, TEIA – Mostra de Cultura e Economia Solidária em Brasília e S.Paulo, Feira Nacional de Agricultura Familiar e Reforma Agrária em Porto Alegre e Rio de Janeiro, Salão do Turismo em S.Paulo, projeto Saravá, Mário de Andrade! (itinerância Sesc S.Paulo), São João em Recife, Semana da Música da UFSCar em São Carlos (SP), festivais em Ouro Preto, Ouro Branco, Chapada dos Veadeiros, Serra da Capivara, Rio de Janeiro e Paranapiacaba, Festa do Divino em Paraty e São Luiz do Paraitinga, aulas-shows no projeto Rumos Educação Andanças e Chegadas, programas Ensaio e Bem Brasil (TV Cultura SP), temporadas de shows no Teatro de Arena Eugênio Kusnet, Teatro Sesc Pompéia e Auditório do Ibirapuera, além de turnês no Uruguai (Montevidéu) e Portugal (Évora e Lisboa).

Em 2018 a Barca comemorou 20 anos de atividades com shows no Teatro Paulo Autran do Sesc Pinheiros, reunindo ex-integrantes, colaboradores, mestres e grupos convidados, como as Caixeiras da Família Menezes, Lia de Itamaracá, Reisado dos Irmãos e Metá Metá.

André Magalhães

André Magalhães é uma referência quando trata da produção musical e da engenharia de som.

Foi proprietário do Estúdio Zabumba (SP) por 15 anos, onde produziu mais de 800 cds.

Músico, baterista, percussionista, produtor musical e cultural, pesquisador de cultura tradicional e engenheiro de áudio especializado em gravações externas e acústicas, André Magalhães reúne um acervo raro de músicas populares que vai além da música. Traz causos, experiências e memórias de um povo.

É integrante do grupo A Barca e foi produtor musical no projeto “Turista Aprendiz” que viajou para o Brasil registrando manifestações populares e recebendo o prêmio Rodrigo Melo Franco (IPHAN) por serviços prestados pelo Patrimônio Cultural Brasileiro.

Como produtor musical, fez parte da trilha do fechamento das Olimpíadas de 2016 com o grupo Barbatuques.

Trabalhou com grandes mestres da cultura popular como Sebastião Biano, Marcelo Pretto Ortaça, Juçara Marçal, Mestre Sapopemba, entre outros.

Para encerrar, também foi diretor de gravação e mixagem nos filmes “O Piano que conversa” e “Música pelos Poros” e “Guriatã”.

Para Ti – Batuque e melodia dos cantos é o primeiro álbum do produtor musical, que classifica sua obra como um ensaio autobiográfico e étnico-musical de um Brasil Real. Isso porque as composições do disco são um resumo dos 50 anos de vivências e sentimentos fornecidos pelas experiências do músico, educador, produtor musical/cultural, pesquisador e curioso.

  André Magalhães Brasileira, criada no Maranhão, é uma cantora e intérprete de personalidade singular e de voz contundente. Uma artista do seu tempo, que sabe trabalhar as misturas e sons. Radicada em São Paulo há 12 anos, começou fazendo teatro aos 16. Atualmente, além do Maria Preá, é cantora no renomado grupo A Barca, de música popular tradicional brasileira. Nas festas do Divino, realizadas em São Paulo, é caixeira onde toca com a Família Menezes (Casa Fanti-Ashanti do Maranhão). Também é vocalista do Forró de Caroço, com Michelle Abu, e é integrante do Bloco do Água Preta, ao lado de Suzana Salles, que sai no pós carnaval percorrendo o caminho do Córrego da Água Preta. A partir daí, as portas para outras expressões artísticas se abriram. Fez dança e começou a cantar em musicais com o grupo de teatro e iniciou sua pesquisa sobre música e cultura popular como boa autodidata que é. Em Florianópolis criou o projeto Maria Preá, e ao mudar-se para São Paulo ganhou projeção no meio artístico nacional. Atualmente, além do Maria Preá, é cantora no renomado grupo A Barca, de música popular tradicional brasileira. Nas festas do Divino, realizadas em São Paulo, é caixeira onde toca com a Família Menezes (Casa Fanti-Ashanti do Maranhão). Também é vocalista do Forró de Caroço, com Michelle Abu, e é integrante do Bloco do Água Preta, ao lado de Suzana Salles, que sai no pós carnaval percorrendo o caminho do Córrego da Água Preta. Hoje, revela-se multifacetada ao apresentar Core e se abre para um novo desafio, o de mostrar seu nome, desnuda. Feminino, masculino e plural. Para ouvir o CD completo: https://soundcloud.com/laet-cia  
André Magalhães Chico Saraiva nasceu no Rio de Janeiro mas logo aos três anos de idade sua família mudou-se para outro litoral. Criado desde então em Florianópolis, Santa Catarina, tem sua iniciação musical já entre a canção popular e o chamado violão erudito, o qual conhece com a sorte de cair nas mãos de um professor dedicado. Aos 17 anos, sentindo que precisava mergulhar de vez no universo do violão, Chico passa na prova preliminar de violão erudito em Porto Alegre mas opta por ir à Campinas para o recém criado curso de música popular da UNICAMP. Ao longo do curso de graduação é gestado o repertório e a linguagem registrada em seu CD de estréia “Água” (MCD/1999), que ao lado do nascimento do grupo “A Barca” estabelece dois marcos fundamentais para a carreira de Chico. O disco instrumental Água, em parceria com Eduardo Ribeiro e José Nigro, com quem formava o Trio Água, traz as primeiras músicas do compositor-violonista que ali nascia ao lado de obras escritas por autores que lhe são referenciais. No outro lado da balança está o início do grupo A Barca, em que Chico é integrante fundador. Seguindo as trilhas de Mário de Andrade, A Barca realizou expedições Brasil adentro desde 1999 para aprofundar o contato com a música das culturas tradicionais brasileiras – marcadamente ligadas à oralidade – e transformar essas trocas em verdadeiros espetáculos musicais. O conteúdo mobilizado nessas viagens segue transformando a relação de Chico com a música, e o grupo – juntos há 25 anos – segue se apresentando até os dias de hoje. Em 2003, Chico ganhou grande notoriedade ao vencer o 6º Prêmio Visa de MPB – Edição Compositores. O prêmio permitiu a gravação de seu segundo CD “Trégua” (Biscoito Fino/2003), que apresenta canções interpretadas por grandes cantoras brasileiras, permeadas por composições para violão. O disco foi considerado uma “obra-prima” pela imprensa europeia. De aí em diante, o compositor passa a se alimentar, de maneiras variadas, do contato entre o violão e a canção e em seu terceiro disco, “Saraivada” (Biscoito Fino/2007), as sonoridades e os sotaques ritmos de raiz brasileira interagem com a moderna e inventiva linguagem harmônico melódica do compositor. Disco no qual o próprio compositor tem uma primeira experiência interpretando suas canções, compostas em parceria com poetas como Luiz Tatit e Paulo César Pinheiro. Lança em 2009 o CD “Sobre Palavras” (Borandá), projeto em parceria com a cantora Verônica Ferriani e com o letrista Mauro Aguiar. Trabalho selecionado pelo Projeto Pixinguinha (Funarte). Em 2013 apresenta o projeto “Tejo-Tietê”, em parceria com a cantora portuguesa Susana Travassos, gravado em voz e violão, com produção de Paulo Bellinati. Trabalho viabilizado pelo ProAc/ICMS da Secretaria do estado da cultura de São Paulo, com patrocínio da “Lupo”.
  André Magalhães é pianista, pifeiro, compositor e produtor cultural. Formado em composição e regência pelo Instituto de Artes da UNESP, gravou os CDs O ouvido das canções, Quintal e Entrevista com Stela do Patrocínio. Com o grupo A Barca realiza pelo Brasil diversos projetos de circulação de espetáculos, oficinas, registros em campo e produção de CDs e DVDs, entre eles Turista aprendiz, Baião de princesas e as caixas Trilha, toada e trupé e Coleção Turista Aprendiz. Gravou ainda com Suzana Salles, Cida Moreira, Péricles Cavalcanti, Ceumar, Mauricio Pereira, Juçara Marçal e Kiko Dinnuci, entre outros. No teatro, como diretor musical, compositor e arranjador, trabalhou com Marco Nanini, Bibi Ferreira, Márcio Aurélio, Cibele Forjaz, Maria Alice Vergueiro, Esther Góes, Denise Fraga, Cia. do Latão, Cia. São Jorge de Variedades, As Graças, Fraternal Cia., Cia. Livre, Cia. do Feijão e Núcleo do Cientista, com o qual realiza o espetáculo Entrevista com Stela do Patrocínio, de sua autoria, com Georgette Fadel e Juliana Amaral. Integra ainda a banda de pífanos Epifolias e o coletivo Sambadera.
  Renata Amaral

Formada em composição e regência, mestre e doutoranda em performance Musical pela UNESP, tem se apresentado em todo o Brasil e Europa ao lado de artistas como A Barca, Ponto br, Tião Carvalho, Sebastião Biano, Orquestra Popular do Recife e outros.

Pesquisadora e contrabaixista, desde 1991 reúne o Acervo Maracá, tendo produzido mais de 30 CDs e 12 documentários de gêneros tradicionais que receberam diversos prêmios como Lati Grammy, Rodrigo Melo Franco de Andrade e outros.

Recebeu por duas vezes o prêmio Interações Estéticas da Funarte, realizando residências artísticas no Maranhão e no Benin. Autora de Pedra da Memória, ministra cursos e oficinas com foco em Cultura Tradicional em escolas e universidades, atualmente sendo responsável pela disciplina de Etnomusicologia no IA Unesp.  

  André Magalhães Em 1981 ingressou no grupo Abaçaí, atuando como percussionista. Com o grupo montou espetáculos de teatro, música e dança, embasados em pesquisas sobre a cultura popular brasileira. A partir desse trabalho, começou a vivenciar e estudar a diversidade rítmica brasileira. Acompanhou em shows e gravações artistas como Naná Vasconcelos, Gil Jardim, Mônica Salmaso, Benjamin Taubkim, Arnaldo Antunes, Toninho Ferragutti, Egberto Gismonti, Toninho Carrasqueira, Yamandu Costa, Pena Branca e Xavantinho, entre outros. Em 1998 participou como convidado especial do concerto do trompetista norte-americano Winton Marsalis, realizado no Teatro Alfa Real e com transmissão em rede nacional pela TV Cultura. Em 1999 participou da banda do cantor porto-riquenho Rick Martin, em turnê realizadas pelas emissoras de televisão no Brasil e na Argentina. Participou como solista convidado de três concertos da Royal Philarmonic de Londres, realizados em São Paulo, ao lado de solistas como Paquito D’Rivera, Cesar Camargo Mariano, Romero Lubambo, sob a regência de Ettore Stratta. Integrou a Orquestra HeartBreakers, com a qual gravou em 2000 o CD “Salsa, Samba, Groove”. Em 2000 acompanhou a cantora Ceumar e o cantor Rubi em shows realizados no “Festival de Cultura Brasileira”, em Hong Kong, na China. A partir desse mesmo ano acompanhou os músicos Paulo Tatit e Sandra Perez nos shows realizados pelo selo Palavra Cantada, de músicas infantis, por várias cidades do Brasil. A partir de 1995 acompanhou a cantora Fortuna em seus shows pelo Brasil, Argentina, Europa e Estados Unidos, e na gravação dos CDs “Mediterrâneo”, que ganhou o Prêmio Sharp em 1996, “Mazal”, de 1999, “Caelestia”, de 2000, e “Encontros”, de 2003. Integrou a Orquestra Popular de Câmara, com a qual gravou em 2003 o CD “Danças, Jongos e Canções”, saindo em turnê pelo Brasil e Europa. Participou da gravação do CD “Iaiá” de Mônica Salmaso, lançado em 2004 pelo selo Biscoito Fino. Acompanhou a cantora Zizi Possi na turnê do show “Bossa”.  
  André Magalhães Cantor autodidata, além de integrante do Barbatuques desde 1999, faz parte do grupo A Barca, que pesquisa a música brasileira tradicional há mais de 15 anos. Paralelamente aos dois grupos, desenvolve uma série de outros projetos, em trabalhos com forró ou samba, além de um show solo, onde canta com diferentes acompanhamentos, como: violão, percussão corporal, pedal de ‘Loop’, berimbau de boca e à capela. Tem um DVD ao vivo, com várias participações, produzido no Itaú Cultural e lançado pela MCD. Tem um duo de voz e violão com Swami Jr.com um CD gravado,” A Carne das Canções”(2014),produzido por Beto Villares.Por conta deste trabalho,recebeu o Troféu Cata-Vento 2014,de melhor cantor,pela Rádio Cultura AM Participou em mais de cinquenta CDs de artistas, no Brasil e fora dele e inúmeros shows,também,como,por exemplo:pocket shows de abertura da turnê “Le Fille”,de Camille(FR),março de 2006;shows com Sandra Nkake,Vincent Segal;participações com Guinga,Dominguinhos,Ná Ozzetti e outros; videoclipe com Le Frère Guissé, gravado no Senegal em 2010 Foi um dos cinco finalistas do “Prêmio Visa-Edição Intérpretes” (2002) Ganhou o prêmio de Melhor Intérprete“Festival da Cultura” (2005) Ministra oficinas na cidade, na periferia, em outros estados e fora do Brasil, onde mescla conteúdos de percussão corporal com ritmos tradicionais brasileiros e trabalha ,ocasionalmente, como ator, além de locuções e canto em publicidade.  
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DISCOGRAFIA

TURISTA APRENDIZ

1. Marujo Du Mar (Tradicional – Adaptação: A Barca)

2. Coco dendê Trapiá (Tradicional – Adaptação: A Barca)

3. Ô Baiana (Tradicional – Adaptação: A Barca)

4. Manué (Tradicional – Adaptação: A Barca)

5. Mandei Fazer Uma Rede (Tradicional – Adaptação: A Barca)

6. Justino Grande (Tradicional – Adaptação: A Barca)

7. Batuque de Pirapora (Geraldo Filme)

8. Boi de Orerê (Fulô)

9. Mina Terê Terê (Tradicional – Adaptação: A Barca)

10. Doçu Semenomé (Tradicional – Adaptação: A Barca)

11. Terra Do Caranguejo (Raimundo “Tico”) / Aruê, Aruá (Tradicional – Adaptação: A Barca)

12. Marajó Já Teve Fama (Tradicional – Adaptação: A Barca)

13. Patrão, Prenda Seu Gado (Pixinguinha, Donga e João Da Baiana)

14. Ê Tum (Tradicional – Adaptação: A Barca)

15. Tá Lá Meu Boi (Tradicional – Adaptação: A Barca)

16. Vovó, Pra Quê Tu Qué O Didá ? (Totonho) / Vovó Não Qué Casca de Coco No Terreiro (Tradicional – Adaptação: A Barca)

17. O Sol Lá Vem (Tradicional – Adaptação: A Barca) / O Poeta Come Amendoim (Mário de Andrade)

18. Mestre Carlos / Nãnã-giê (Tradicional – Adaptação: A Barca)

19. Adeus Meu Lindo Amor (Tradicional – Adaptação: A Barca)

Músicos

Sandra Ximenez – Voz

Juçara Marçal – Voz

Marcelo Pretto – Voz

Renata Amaral – Baixo e Vocal

Lincoln Antonio – Piano, Fender Rhodes, Sanfona e Vocal

Chico Saraiva – Violão, Viola e Cavaquinho

Thomas Rohrer – Rabeca e Sax Soprano

Ligeirinho – Pandeiro, Congas, Tambu, Timba, Ganzás, Maracás, Matraca, Cuíca, Tamborim, Repique e Apito

Valquíria Roza – Pandeiro, Caixas, Tambu, Ganzás, Agogô, Triângulo, Ferro, Pratos, Apito e Vocal

Beto Teixeira – Ganzás

Participações Especiais

Aguinaldo Pereira – Guitarra em "Ê Tum".

Maurício Alves – Caixa e Ganzá em "Manué" e Tambu em "Mestre Carlos / Nãnã-giê.

André Magalhães – Bateria em Justino Grande, Matraca em Aruê, Aruá e Pratos em Marajó Já Teve Fama.

Produção

André Magalhães

Co-produção

Lincoln Antonio e Renata Amaral

APONTAMENTOS DE VIAGEM

“Me dá uma angústia atualmente imaginar em Brasil... É uma entidade creio que simbólica este país. Realidade, não me parece que seja não e quanto mais estudo e viajo as manifestações concretas do mito, mais me desnorteio e, entristecer, não posso garantir que me entristeço: me assombro.” Mário de Andrade, “Sinhô”, Táxi e Crônicas do Diário Nacional

Na aula “O artista e o artesão” (in O Baile das Quatro Artes), Mário de Andrade discute a importância do artesanato como parte da técnica artística que se pode ensinar, que é necessária para movimentar o material, pra que a obra de arte se faça. Técnica demais, porém, pode descambar para uma virtuosidade perigosa, vazia, ou para um formalismo excessivo, distanciando a obra de sua função social. É preciso que haja “um justo equilíbrio entre a arte e o social, entre o artista e a sociedade”. Portanto, é necessário que o artista adquira “uma severa consciência artística que o moralize”, envolvendo-se com os problemas imediatos do seu tempo. Essa dimensão social da arte não se localiza fora dela, mas no próprio fazer artístico.

O trabalho da Barca começa do aprendizado e movimentação de um material específico: a música vinda das tradições populares de todo o Brasil. São melodias, ritmos, vozes, timbres e versos de artistas anônimos, como finas camadas de areia que vão se sobrepondo ao longo do tempo. Sempre em transformação, a arte popular é genuinamente social, porque funcional, seja no sentido lúdico ou religioso. Ela precisa interessar, sempre. Na sua origem está a busca da comunicação entre os homens.

Baseado nesse desejo de comunicação, nos lançamos a essa tarefa nada simples de pesquisar, estudar e apresentar esse material, sempre atentos às suas características e exigências, porque “se o espírito não tem limites na criação, a matéria o limita na criatura”.

Turista Aprendiz, o show, é antes um ensaio, um jogo, um brinquedo. Não tem intenções formalistas. Foi produto desse desejo de mostrar, primeiramente ao público paulistano, algo da cultura popular brasileira, aquilo que nos diferencia e singulariza frente ao “concerto das nações”.

Em janeiro de 1999 a Barca viajou por cidades do interior do Pará e do Maranhão mostrando essa experiência e conhecendo muitas outras coisas que acabaram influenciando nosso trabalho e entrando para o repertório do grupo. Essa viagem, marcada pela vontade mútua de compartilhar experiências, nos deu uma visão muito clara do quanto a música brasileira é ao mesmo tempo múltipla e integradora. Tocando e cantando, a gente se entende.

Portanto, é confiando nesse ethos da música popular brasileira que a Barca continua essa grande viagem de aprendizado, chegando agora ao formato de CD.

REPERTÓRIO

CHEGANÇAS - No Brasil, a reunião de figuras e temas marítimos de origem ibérica deu origem à dança dramática conhecida como chegança em Sergipe, fandango nas Alagoas, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte, barca ou nau catarineta na Paraíba. Entre as cenas, o embarque, a despedida, a vida no mar, aventuras, a tempestade, a fome, até novamente alcançar “terras de Espanha e areias de Portugal”, para daí novo embarque e etc.

COCOS - Mário de Andrade anotou por volta de 300 cocos quando viajou ao Nordeste em 1928-9. O SOL LÁ VEM ele ouviu na Paraíba. De COCO DENDÊ TRAPIÁ ouviu duas versões, uma no Rio Grande do Norte e outra na Paraíba, e anotou: “este coco está espalhadíssimo e já deu maxixe. Creio mesmo que foi por este que se vulgarizou. ‘Vulgarizou’ em todos os sentidos, banalizado na rítmica batida das síncopas comuns. É pra se cantar com a máxima naturalidade, refrão elástico, sem dureza nem pressa, com ‘jeitinh’ que nem o da minha colaboradora, coqueira hábil, pajem do Bom Jardim”.

Da boca de Chico Antônio, célebre coqueiro também do Bom Jardim, engenho do Rio Grande do Norte, ouviu Ô BAIANA, que lembra o samba Escurinha de Geraldo Pereira. Chico Antônio foi uma das “comoções mais formidáveis” da vida de Mário de Andrade. Escreveu em seu diário de viagem O Turista Aprendiz: “Não sabe que vale uma dúzia de Carusos. Vem da terra, canta por cantar, por uma cachaça, por coisa nenhuma e passa uma noite cantando sem parada. O que faz com o ritmo não se diz! Enquanto os três ganzás se movem interminavelmente no compasso unário, na ‘pancada do ganzá’, Chico Antônio vai fraseando com uma força inventiva incomparável, tais sutilezas certas feitas que a notação erudita nem pense em grafar, se estrepa. E quando tomado pela exaltação musical, o que canta em pleno sonho, não se sabe mais se é música, se é esporte, se é heroísmo.” JUSTINO GRANDE e Ê TUM são outros dois cocos cantados por Chico Antônio.

MÚSICA DE FEITIÇARIA - Mário de Andrade reuniu sob este título uma conferência e as linhas de catimbó que recolheu em Natal, na Paraíba e em Pernambuco. A Missão de Pesquisas Folclóricas gravou dez anos depois a música do xangô, no Recife, do tambor de mina, em São Luís, do babaçuê e da pajelança, em Belém, além do catimbó, na Paraíba. Embora seja um bom painel da música nas religiões populares brasileiras, está longe de estar completo, como mostra a ausência do candomblé, da umbanda e do catolicismo.

Catimbó era o nome genérico de práticas religiosas que incluíam elementos da pajelança indígena, da feitiçaria e do espiritismo europeu, entre outros. Câmara Cascudo, que por vinte anos estudou o assunto e hospedou Mário de Andrade quando de sua visita a Natal, escreveu em seu Meleagro: no catimbó, “a ‘linha’ é o canto entoado pelo ‘mestre da mesa’ e continuado, através de sua boca, pelo ‘mestre’ invisível. A finalidade mágica do canto era indiscutida. Conservamos o ‘encanto’ de ‘em-canto’, no canto. Agindo diretamente sobre a emoção, criadora da energia psíquica, o canto uniformiza, sugere um estado, um nível de extrema receptividade. Todas as religiões o adotaram.”
MESTRE CARLOS era um dos “mestres invísiveis” mais populares nos catimbós do Nordeste. Protetor dos moços, casamenteiro, foi quem terminou de “fechar o corpo” de Mário de Andrade na última sexta-feira do ano de 1928, em Natal: “veio afinal o complacente Mestre Carlos e entre cruzes e defumações intermináveis do meu corpo e eu com os pés numa aguinha de bacia que simbolizava o mar, o fechamento de meu corpo se acabou por ele e pela bonita NÃNÃ-GIÊ. Sou obrigado a confessar que agora, passado os ridículos a que me sujeitei por mera curiosidade, estou tomado de lirismo, vou me deitar matutando com Nãnã-Giê, marvada! ficou um momentinho só na minha frente e foi-se embora, sarará, corada, boca de amor, corpo de bronze novo...” Nãnã, orixá nagô, velha senhora das águas paradas, ganha no catimbó o atributo Giê e já não é velha, é menina e trabalha no fundo do mar.

Tambor de mina é a religião popular do Maranhão, originária de duas casas centenárias de São Luís - a Casa das Minas-Jeje e a Casa de Nagô. Além dos voduns e orixás africanos, no tambor de mina baixam também outras linhas de encantados, como a gentilharia e os numerosos caboclos. Jorge de Iemanjá nos contou que “na mina desce todo o tipo de gente. Quando os orixás e voduns chegaram aqui viram que a terra já tinha dono: os índios e os caboclos”. E continua: “tentaram proibir, a polícia perseguiu e tudo, mas é uma religião muito popular, muito natural. Aqui o vodum desce e vai na igreja batizar a criança. Depois vai pra festa, bebe, come, dança e vai embora”. MINA TERÊ TERÊ foi gravada pela Missão, em 1938, num terreiro que não existe mais. Porém, esta doutrina ainda é cantada no Maranhão, sofrendo alterações de melodia e letra, conforme ouvimos com Seu Bibi, batazeiro da Casa de Nagô e D. Zizi.
Em Pirapemas, interior do Maranhão, conhecemos três figuras do tambor de mina com quem aprendemos muitas coisas. Seu Luís é filho de Xangô, tem como guia chefe Luís Reis de França, e como encarregado de serviço o caboclo Batatinha Croatá. As três raças guiam o velho sacerdote que chefia um terreiro de mina e uma tenda espírita, além de ser vidente e curandeiro. Sonha com um seminário onde se formariam os pais de santo, “é preciso saber muito para abrir um tambor”. Indagado sobre sua religião, perguntou, “pode começar do princípio?”, e nos contou, com incrível riqueza de detalhes, a história da Criação.
D. Gildete é filha-de-santo de Seu Luís... Seu Manuel, dono de um vozeirão treme-terra, é batazeiro dos mais solicitados da região, capaz de tocar dois tambores ao mesmo tempo, se faltar quem toque. Está na mina desde sempre, seu pai era chefe de terreiro e seu tio sabia ficar invisível quando queria. Nos apresentou ao juremal, morada dos caboclos, estância celeste herdada do catimbó, reino de onde vêm as melodias mais bonitas que conhecemos.
Cantada por Satiro Ferreira Barros, chefe do terreiro de babaçuê em Belém, MARAJÓ JÁ TEVE FAMA é uma pajelança de Mestre Marajó. Jorge de Iemanjá nos disse que “o babaçuê é uma estilização do tambor de mina aculturado no Pará”. D. Zizi conheceu Satiro e nos cantou algumas doutrinas de Barba Suêra, identificada com Santa Bárbara, chefe de todos os terreiros mina. Já esta pajelança parece aproximar-se das práticas do catimbó, que na mina assemelha-se à linha de cura.

MELODIAS DO BOI - O tema do boi é encontrado em todo o país. Bumba-meu-boi, bumba-boi ou boi-bumbá é sinônimo de grande festa no Norte. O refrão Ê MANUÉ é uma toada de boi-bumbá de Belém do Pará, que em nossa versão somou-se a uma embolada pernambucana e virou coco. Do recôncavo baiano vem o BOI DE ORERÊ, boi de roça, modalidade do aboio, que é o canto do vaqueiro, popular no mundo todo. Várias outras melodias do boi fazem parte do repertório da Barca, como as toadas da dança da mangaba do Maranhão, da banda de congos capixaba, o coco Boi Valeroso, e outras que ficaram pra próxima...

CARIMBÓ - o carimbó está para o Norte assim como o forró está para o Nordeste. É música de festa, onde se dança até o dia amanhecer. A Barca conheceu e tocou com alguns grupos de carimbó do Pará, como Os Brasas Vivas, de Terra Alta, Nova Zimba e Canarinho, de Maracanã, sempre com a formação de pau-e-corda, ou seja, tambores (os carimbós), ganzá, banjo, sopro e voz. ARUÊ, ARUÁ e SANTARÉM NOVO são toadas cantadas pelos Quentes da Madrugada, grupo de carimbó de Santarém Novo.

JONGOS - batuque de origem banto, “jongo” parece vir do termo quimbundo ndjongö que significa “criação, descendência” e que teria, aqui, tomado o sentido de “reunião de familiares”, segundo Nei Lopes em seu livro Bantos, malês e identidade negra.
Uma fogueira à beira da via Dutra e a roda de jongo se formando a partir dos tambores, afinados no fogo. Assim conhecemos o jongo no bairro de Tamandaré, em Guaratinguetá (SP), por ocasião das festas juninas. O ponto VOVÓ, PRA QUE TU QUÉ O DIDÁ ? é de Totonho, uma das figuras centrais do jongo de Guará. VOVÓ NÃO QUER CASCA DE COCO NO TERREIRO é a versão da comunidade de Tamandaré para um ponto popular, talvez já centenário, também encontrado no samba de roda.

SAMBAS - samba de roda, samba rural, partido alto, samba-maxixe, são muitas as manifestações do nacionalíssimo samba. Oriundo dos batuques banto, desenvolveu-se no Brasil em várias direções. Uma delas vem da Bahia para as festas na casa de Tia Ciata, no Rio de Janeiro, onde se reunia a elite cultural negra da virada do século. Depois se organiza no Largo do Estácio, sobe o morro e entra no repertório dos músicos populares que se profissionalizavam nos teatros, nas gravações e no rádio, até chegar nos grandes nomes da década de trinta, quando o gênero se estabeleceu como conhecemos até hoje. A antiga chula raiada PATRÃO, PRENDA SEU GADO assumiu sua identidade como samba ao receber novo arranjo das mãos de Pixinguinha, Donga e João da Baiana, precursores do gênero.
Uma outra direção, a do samba paulista, começa a ser traçada. O samba BATUQUE DE PIRAPORA, de Geraldo Filme, conta um pouco a história do gênero em São Paulo, onde o elemento negro somou-se a cultura cabocla ou caipira. Em festas como a de Bom Jesus de Pirapora, às margens do rio Tietê, reuniam-se romeiros e batuqueiros de diversas cidades do estado. Maria Esther, a “dona do samba” em Pirapora, nos ensinou alguma coisa deste samba rural, ou “samba do tempo antigo”, como gosta de dizer. Aos 75 anos de idade e mais de 60 de samba, nos alertou: “idade não regula, o que conta é o rebolado”.

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DISCOGRAFIA

TURISTA APRENDIZ

1. Marujo Du Mar (Tradicional – Adaptação: A Barca)

2. Coco dendê Trapiá (Tradicional – Adaptação: A Barca)

3. Ô Baiana (Tradicional – Adaptação: A Barca)

4. Manué (Tradicional – Adaptação: A Barca)

5. Mandei Fazer Uma Rede (Tradicional – Adaptação: A Barca)

6. Justino Grande (Tradicional – Adaptação: A Barca)

7. Batuque de Pirapora (Geraldo Filme)

8. Boi de Orerê (Fulô)

9. Mina Terê Terê (Tradicional – Adaptação: A Barca)

10. Doçu Semenomé (Tradicional – Adaptação: A Barca)

11. Terra Do Caranguejo (Raimundo “Tico”) / Aruê, Aruá (Tradicional – Adaptação: A Barca)

12. Marajó Já Teve Fama (Tradicional – Adaptação: A Barca)

13. Patrão, Prenda Seu Gado (Pixinguinha, Donga e João Da Baiana)

14. Ê Tum (Tradicional – Adaptação: A Barca)

15. Tá Lá Meu Boi (Tradicional – Adaptação: A Barca)

16. Vovó, Pra Quê Tu Qué O Didá ? (Totonho) / Vovó Não Qué Casca de Coco No Terreiro (Tradicional – Adaptação: A Barca)

17. O Sol Lá Vem (Tradicional – Adaptação: A Barca) / O Poeta Come Amendoim (Mário de Andrade)

18. Mestre Carlos / Nãnã-giê (Tradicional – Adaptação: A Barca)

19. Adeus Meu Lindo Amor (Tradicional – Adaptação: A Barca)

Músicos

Sandra Ximenez – Voz

Juçara Marçal – Voz

Marcelo Pretto – Voz

Renata Amaral – Baixo e Vocal

Lincoln Antonio – Piano, Fender Rhodes, Sanfona e Vocal

Chico Saraiva – Violão, Viola e Cavaquinho

Thomas Rohrer – Rabeca e Sax Soprano

Ligeirinho – Pandeiro, Congas, Tambu, Timba, Ganzás, Maracás, Matraca, Cuíca, Tamborim, Repique e Apito

Valquíria Roza – Pandeiro, Caixas, Tambu, Ganzás, Agogô, Triângulo, Ferro, Pratos, Apito e Vocal

Beto Teixeira – Ganzás

Participações Especiais

Aguinaldo Pereira – Guitarra em "Ê Tum".

Maurício Alves – Caixa e Ganzá em "Manué" e Tambu em "Mestre Carlos / Nãnã-giê.

André Magalhães – Bateria em Justino Grande, Matraca em Aruê, Aruá e Pratos em Marajó Já Teve Fama.

Produção

André Magalhães

Co-produção

Lincoln Antonio e Renata Amaral

APONTAMENTOS DE VIAGEM

“Me dá uma angústia atualmente imaginar em Brasil... É uma entidade creio que simbólica este país. Realidade, não me parece que seja não e quanto mais estudo e viajo as manifestações concretas do mito, mais me desnorteio e, entristecer, não posso garantir que me entristeço: me assombro.” Mário de Andrade, “Sinhô”, Táxi e Crônicas do Diário Nacional

Na aula “O artista e o artesão” (in O Baile das Quatro Artes), Mário de Andrade discute a importância do artesanato como parte da técnica artística que se pode ensinar, que é necessária para movimentar o material, pra que a obra de arte se faça. Técnica demais, porém, pode descambar para uma virtuosidade perigosa, vazia, ou para um formalismo excessivo, distanciando a obra de sua função social. É preciso que haja “um justo equilíbrio entre a arte e o social, entre o artista e a sociedade”. Portanto, é necessário que o artista adquira “uma severa consciência artística que o moralize”, envolvendo-se com os problemas imediatos do seu tempo. Essa dimensão social da arte não se localiza fora dela, mas no próprio fazer artístico.

O trabalho da Barca começa do aprendizado e movimentação de um material específico: a música vinda das tradições populares de todo o Brasil. São melodias, ritmos, vozes, timbres e versos de artistas anônimos, como finas camadas de areia que vão se sobrepondo ao longo do tempo. Sempre em transformação, a arte popular é genuinamente social, porque funcional, seja no sentido lúdico ou religioso. Ela precisa interessar, sempre. Na sua origem está a busca da comunicação entre os homens.

Baseado nesse desejo de comunicação, nos lançamos a essa tarefa nada simples de pesquisar, estudar e apresentar esse material, sempre atentos às suas características e exigências, porque “se o espírito não tem limites na criação, a matéria o limita na criatura”.

Turista Aprendiz, o show, é antes um ensaio, um jogo, um brinquedo. Não tem intenções formalistas. Foi produto desse desejo de mostrar, primeiramente ao público paulistano, algo da cultura popular brasileira, aquilo que nos diferencia e singulariza frente ao “concerto das nações”.

Em janeiro de 1999 a Barca viajou por cidades do interior do Pará e do Maranhão mostrando essa experiência e conhecendo muitas outras coisas que acabaram influenciando nosso trabalho e entrando para o repertório do grupo. Essa viagem, marcada pela vontade mútua de compartilhar experiências, nos deu uma visão muito clara do quanto a música brasileira é ao mesmo tempo múltipla e integradora. Tocando e cantando, a gente se entende.

Portanto, é confiando nesse ethos da música popular brasileira que a Barca continua essa grande viagem de aprendizado, chegando agora ao formato de CD.

REPERTÓRIO

CHEGANÇAS - No Brasil, a reunião de figuras e temas marítimos de origem ibérica deu origem à dança dramática conhecida como chegança em Sergipe, fandango nas Alagoas, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte, barca ou nau catarineta na Paraíba. Entre as cenas, o embarque, a despedida, a vida no mar, aventuras, a tempestade, a fome, até novamente alcançar “terras de Espanha e areias de Portugal”, para daí novo embarque e etc.

COCOS - Mário de Andrade anotou por volta de 300 cocos quando viajou ao Nordeste em 1928-9. O SOL LÁ VEM ele ouviu na Paraíba. De COCO DENDÊ TRAPIÁ ouviu duas versões, uma no Rio Grande do Norte e outra na Paraíba, e anotou: “este coco está espalhadíssimo e já deu maxixe. Creio mesmo que foi por este que se vulgarizou. ‘Vulgarizou’ em todos os sentidos, banalizado na rítmica batida das síncopas comuns. É pra se cantar com a máxima naturalidade, refrão elástico, sem dureza nem pressa, com ‘jeitinh’ que nem o da minha colaboradora, coqueira hábil, pajem do Bom Jardim”.

Da boca de Chico Antônio, célebre coqueiro também do Bom Jardim, engenho do Rio Grande do Norte, ouviu Ô BAIANA, que lembra o samba Escurinha de Geraldo Pereira. Chico Antônio foi uma das “comoções mais formidáveis” da vida de Mário de Andrade. Escreveu em seu diário de viagem O Turista Aprendiz: “Não sabe que vale uma dúzia de Carusos. Vem da terra, canta por cantar, por uma cachaça, por coisa nenhuma e passa uma noite cantando sem parada. O que faz com o ritmo não se diz! Enquanto os três ganzás se movem interminavelmente no compasso unário, na ‘pancada do ganzá’, Chico Antônio vai fraseando com uma força inventiva incomparável, tais sutilezas certas feitas que a notação erudita nem pense em grafar, se estrepa. E quando tomado pela exaltação musical, o que canta em pleno sonho, não se sabe mais se é música, se é esporte, se é heroísmo.” JUSTINO GRANDE e Ê TUM são outros dois cocos cantados por Chico Antônio.

MÚSICA DE FEITIÇARIA - Mário de Andrade reuniu sob este título uma conferência e as linhas de catimbó que recolheu em Natal, na Paraíba e em Pernambuco. A Missão de Pesquisas Folclóricas gravou dez anos depois a música do xangô, no Recife, do tambor de mina, em São Luís, do babaçuê e da pajelança, em Belém, além do catimbó, na Paraíba. Embora seja um bom painel da música nas religiões populares brasileiras, está longe de estar completo, como mostra a ausência do candomblé, da umbanda e do catolicismo.

Catimbó era o nome genérico de práticas religiosas que incluíam elementos da pajelança indígena, da feitiçaria e do espiritismo europeu, entre outros. Câmara Cascudo, que por vinte anos estudou o assunto e hospedou Mário de Andrade quando de sua visita a Natal, escreveu em seu Meleagro: no catimbó, “a ‘linha’ é o canto entoado pelo ‘mestre da mesa’ e continuado, através de sua boca, pelo ‘mestre’ invisível. A finalidade mágica do canto era indiscutida. Conservamos o ‘encanto’ de ‘em-canto’, no canto. Agindo diretamente sobre a emoção, criadora da energia psíquica, o canto uniformiza, sugere um estado, um nível de extrema receptividade. Todas as religiões o adotaram.”
MESTRE CARLOS era um dos “mestres invísiveis” mais populares nos catimbós do Nordeste. Protetor dos moços, casamenteiro, foi quem terminou de “fechar o corpo” de Mário de Andrade na última sexta-feira do ano de 1928, em Natal: “veio afinal o complacente Mestre Carlos e entre cruzes e defumações intermináveis do meu corpo e eu com os pés numa aguinha de bacia que simbolizava o mar, o fechamento de meu corpo se acabou por ele e pela bonita NÃNÃ-GIÊ. Sou obrigado a confessar que agora, passado os ridículos a que me sujeitei por mera curiosidade, estou tomado de lirismo, vou me deitar matutando com Nãnã-Giê, marvada! ficou um momentinho só na minha frente e foi-se embora, sarará, corada, boca de amor, corpo de bronze novo...” Nãnã, orixá nagô, velha senhora das águas paradas, ganha no catimbó o atributo Giê e já não é velha, é menina e trabalha no fundo do mar.

Tambor de mina é a religião popular do Maranhão, originária de duas casas centenárias de São Luís - a Casa das Minas-Jeje e a Casa de Nagô. Além dos voduns e orixás africanos, no tambor de mina baixam também outras linhas de encantados, como a gentilharia e os numerosos caboclos. Jorge de Iemanjá nos contou que “na mina desce todo o tipo de gente. Quando os orixás e voduns chegaram aqui viram que a terra já tinha dono: os índios e os caboclos”. E continua: “tentaram proibir, a polícia perseguiu e tudo, mas é uma religião muito popular, muito natural. Aqui o vodum desce e vai na igreja batizar a criança. Depois vai pra festa, bebe, come, dança e vai embora”. MINA TERÊ TERÊ foi gravada pela Missão, em 1938, num terreiro que não existe mais. Porém, esta doutrina ainda é cantada no Maranhão, sofrendo alterações de melodia e letra, conforme ouvimos com Seu Bibi, batazeiro da Casa de Nagô e D. Zizi.
Em Pirapemas, interior do Maranhão, conhecemos três figuras do tambor de mina com quem aprendemos muitas coisas. Seu Luís é filho de Xangô, tem como guia chefe Luís Reis de França, e como encarregado de serviço o caboclo Batatinha Croatá. As três raças guiam o velho sacerdote que chefia um terreiro de mina e uma tenda espírita, além de ser vidente e curandeiro. Sonha com um seminário onde se formariam os pais de santo, “é preciso saber muito para abrir um tambor”. Indagado sobre sua religião, perguntou, “pode começar do princípio?”, e nos contou, com incrível riqueza de detalhes, a história da Criação.
D. Gildete é filha-de-santo de Seu Luís... Seu Manuel, dono de um vozeirão treme-terra, é batazeiro dos mais solicitados da região, capaz de tocar dois tambores ao mesmo tempo, se faltar quem toque. Está na mina desde sempre, seu pai era chefe de terreiro e seu tio sabia ficar invisível quando queria. Nos apresentou ao juremal, morada dos caboclos, estância celeste herdada do catimbó, reino de onde vêm as melodias mais bonitas que conhecemos.
Cantada por Satiro Ferreira Barros, chefe do terreiro de babaçuê em Belém, MARAJÓ JÁ TEVE FAMA é uma pajelança de Mestre Marajó. Jorge de Iemanjá nos disse que “o babaçuê é uma estilização do tambor de mina aculturado no Pará”. D. Zizi conheceu Satiro e nos cantou algumas doutrinas de Barba Suêra, identificada com Santa Bárbara, chefe de todos os terreiros mina. Já esta pajelança parece aproximar-se das práticas do catimbó, que na mina assemelha-se à linha de cura.

MELODIAS DO BOI - O tema do boi é encontrado em todo o país. Bumba-meu-boi, bumba-boi ou boi-bumbá é sinônimo de grande festa no Norte. O refrão Ê MANUÉ é uma toada de boi-bumbá de Belém do Pará, que em nossa versão somou-se a uma embolada pernambucana e virou coco. Do recôncavo baiano vem o BOI DE ORERÊ, boi de roça, modalidade do aboio, que é o canto do vaqueiro, popular no mundo todo. Várias outras melodias do boi fazem parte do repertório da Barca, como as toadas da dança da mangaba do Maranhão, da banda de congos capixaba, o coco Boi Valeroso, e outras que ficaram pra próxima...

CARIMBÓ - o carimbó está para o Norte assim como o forró está para o Nordeste. É música de festa, onde se dança até o dia amanhecer. A Barca conheceu e tocou com alguns grupos de carimbó do Pará, como Os Brasas Vivas, de Terra Alta, Nova Zimba e Canarinho, de Maracanã, sempre com a formação de pau-e-corda, ou seja, tambores (os carimbós), ganzá, banjo, sopro e voz. ARUÊ, ARUÁ e SANTARÉM NOVO são toadas cantadas pelos Quentes da Madrugada, grupo de carimbó de Santarém Novo.

JONGOS - batuque de origem banto, “jongo” parece vir do termo quimbundo ndjongö que significa “criação, descendência” e que teria, aqui, tomado o sentido de “reunião de familiares”, segundo Nei Lopes em seu livro Bantos, malês e identidade negra.
Uma fogueira à beira da via Dutra e a roda de jongo se formando a partir dos tambores, afinados no fogo. Assim conhecemos o jongo no bairro de Tamandaré, em Guaratinguetá (SP), por ocasião das festas juninas. O ponto VOVÓ, PRA QUE TU QUÉ O DIDÁ ? é de Totonho, uma das figuras centrais do jongo de Guará. VOVÓ NÃO QUER CASCA DE COCO NO TERREIRO é a versão da comunidade de Tamandaré para um ponto popular, talvez já centenário, também encontrado no samba de roda.

SAMBAS - samba de roda, samba rural, partido alto, samba-maxixe, são muitas as manifestações do nacionalíssimo samba. Oriundo dos batuques banto, desenvolveu-se no Brasil em várias direções. Uma delas vem da Bahia para as festas na casa de Tia Ciata, no Rio de Janeiro, onde se reunia a elite cultural negra da virada do século. Depois se organiza no Largo do Estácio, sobe o morro e entra no repertório dos músicos populares que se profissionalizavam nos teatros, nas gravações e no rádio, até chegar nos grandes nomes da década de trinta, quando o gênero se estabeleceu como conhecemos até hoje. A antiga chula raiada PATRÃO, PRENDA SEU GADO assumiu sua identidade como samba ao receber novo arranjo das mãos de Pixinguinha, Donga e João da Baiana, precursores do gênero.
Uma outra direção, a do samba paulista, começa a ser traçada. O samba BATUQUE DE PIRAPORA, de Geraldo Filme, conta um pouco a história do gênero em São Paulo, onde o elemento negro somou-se a cultura cabocla ou caipira. Em festas como a de Bom Jesus de Pirapora, às margens do rio Tietê, reuniam-se romeiros e batuqueiros de diversas cidades do estado. Maria Esther, a “dona do samba” em Pirapora, nos ensinou alguma coisa deste samba rural, ou “samba do tempo antigo”, como gosta de dizer. Aos 75 anos de idade e mais de 60 de samba, nos alertou: “idade não regula, o que conta é o rebolado”.

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