Este acervo é resultado da viagem do grupo A Barca por 9 estados brasileiros, em diálogo com a cultura popular de cerca de 30 comunidades.
O projeto Turista Aprendiz, selecionado em edital público e patrocinado pelo Programa Petrobras Cultural através da Lei de Incentivo à Cultura, levou A Barca a visitar quilombos, aldeias indígenas, cidades ribeirinhas, sertanejas e periferias de capitais. Além de movimentar a cultura local realizando oficinas e shows gratuitos nos mais diversos espaços, A Barca fez registros inéditos em áudio e vídeo de diversas manifestações culturais.
Gravado com excelente qualidade técnica, o material
reunido inclui 300 horas de áudio e vídeo e 6 mil fotos e revela uma cultura popular exuberante e vigorosa, onde o talento dos artistas e a vitalidade das tradições revelam diversidade e identidade em um Brasil contemporâneo. Parte do material foi finalizado na caixa Trilha, Toada e Trupé: uma coletânea de três CDs e um DVD documentário – Turista Aprendiz.
A Barca é um grupo de músicos de São Paulo que nasceu em 1998 de uma reunião de amigos em torno de ideias como viagem, música popular, Brasil e Mário de Andrade.
Desde o seu início, A Barca trabalha com a pesquisa e a movimentação da cultura popular brasileira, realizando um trabalho abrangente de criação de espetáculos, documentação, arte-educação e produção cultural, partindo da reflexão sobre o fazer artístico e suas responsabilidades estéticas e sociais.
A primeira viagem a campo do grupo foi em 1999 pelo projeto Universidade Solidária, quando a Barca passou por sete cidades do Pará e Maranhão, estabelecendo os primeiros diálogos culturais com grupos destas cidades, como o carimbó de Santarém Novo (PA), a Tenda S.José em Pirapemas (MA) e a Casa Fanti-Ashanti em São Luís. Em maio de 2000 o grupo lançou seu primeiro CD Turista Aprendiz pelo selo CPC-Umes. Em 2002, seu segundo CD, Baião de Princesas, foi gravado em parceria com a Casa Fanti-Ashanti, focando o repertório tradicional de um ritual específico desta casa.
De dezembro de 2004 a fevereiro de 2005, o grupo viajou mais de 10.000 km por nove estados brasileiros, do Pará a S.Paulo, realizando o projeto Turista Aprendiz, selecionado pelo Programa Petrobrás Cultural. Além de movimentar a cultura local oferecendo opções de educação e entretenimento com a realização de shows e oficinas, o grupo registrou cerca de 40 comunidades ou artistas da tradição popular, em quilombos, aldeias indígenas, periferias de grandes capitais, pequenas cidades ribeirinhas, litorâneas e sertanejas. Os shows e gravações foram realizados nos mais diversos espaços e situações e foi reunido um acervo com 300 horas de áudio e vídeo e 6 mil fotos.
Em 2006, o grupo lançou a caixa Trilha, Toada e Trupé, com três CDs e um DVD documentário, frutos do projeto Turista Aprendiz. Essa caixa reúne o melhor dos registros, em dois CDs dedicados aos grupos e artistas regionais. O terceiro CD traz gravações da Barca em estúdio e faixas ao vivo gravadas nos shows da viagem com participações desses grupos. Por fim, o DVD Turista Aprendiz apresenta a experiência toda da viagem num registro poético guiado mais uma vez por Mário de Andrade. Os shows de lançamento desta caixa aconteceram em 7 cidades do Nordeste, Rio de Janeiro e S.Paulo, reunindo alguns dos grupos registrados em temporadas de shows, cortejos e oficinas.
Em 2007, a Barca lançou a Coleção Turista Aprendiz com 7 CDs e 7 documentários em curta metragem finalizados a partir do acervo do projeto Turista Aprendiz. A caixa exibe ao público o rico repertório artístico de 7 comunidades registradas pelo projeto. Além desses registros, os laços estabelecidos com as comunidades trouxeram resultados transformadores como a criação de Pontos de Cultura, registros e acervos próprios, revitalização e visibilidade dos grupos e capacitação de produtores culturais.
Entre 2007 e 2008 a Barca realizou o projeto Trilhas, apoiado pelo PAC e pela Votorantim, visitando cidades de Minas Gerais, S.Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul com shows, oficinas e exibições dos documentários do grupo.
Em setembro de 2008, depois de mais de 300 shows por todo o país, o grupo festejou seu 10º aniversário com uma temporada de shows no Teatro Sesc Pompéia com a presença de vários grupos e mestres, entre eles, o Boi de Maracanã (MA) e o carimbó de Santarém Novo (PA).
A Barca também participou da Virada Cultural (SP), Mercado Cultural de Salvador, TEIA – Mostra de Cultura e Economia Solidária em Brasília e S.Paulo, Feira Nacional de Agricultura Familiar e Reforma Agrária em Porto Alegre e Rio de Janeiro, Salão do Turismo em S.Paulo, projeto Saravá, Mário de Andrade! (itinerância Sesc S.Paulo), São João em Recife, Semana da Música da UFSCar em São Carlos (SP), festivais em Ouro Preto, Ouro Branco, Chapada dos Veadeiros, Serra da Capivara, Rio de Janeiro e Paranapiacaba, Festa do Divino em Paraty e São Luiz do Paraitinga, aulas-shows no projeto Rumos Educação Andanças e Chegadas, programas Ensaio e Bem Brasil (TV Cultura SP), temporadas de shows no Teatro de Arena Eugênio Kusnet, Teatro Sesc Pompéia e Auditório do Ibirapuera, além de turnês no Uruguai (Montevidéu) e Portugal (Évora e Lisboa).
Em 2018 a Barca comemorou 20 anos de atividades com shows no Teatro Paulo Autran do Sesc Pinheiros, reunindo ex-integrantes, colaboradores, mestres e grupos convidados, como as Caixeiras da Família Menezes, Lia de Itamaracá, Reisado dos Irmãos e Metá Metá.
André Magalhães é uma referência quando trata da produção musical e da engenharia de som.
Foi proprietário do Estúdio Zabumba (SP) por 15 anos, onde produziu mais de 800 cds.
Músico, baterista, percussionista, produtor musical e cultural, pesquisador de cultura tradicional e engenheiro de áudio especializado em gravações externas e acústicas, André Magalhães reúne um acervo raro de músicas populares que vai além da música. Traz causos, experiências e memórias de um povo.
É integrante do grupo A Barca e foi produtor musical no projeto “Turista Aprendiz” que viajou para o Brasil registrando manifestações populares e recebendo o prêmio Rodrigo Melo Franco (IPHAN) por serviços prestados pelo Patrimônio Cultural Brasileiro.
Como produtor musical, fez parte da trilha do fechamento das Olimpíadas de 2016 com o grupo Barbatuques.
Trabalhou com grandes mestres da cultura popular como Sebastião Biano, Marcelo Pretto Ortaça, Juçara Marçal, Mestre Sapopemba, entre outros.
Para encerrar, também foi diretor de gravação e mixagem nos filmes “O Piano que conversa” e “Música pelos Poros” e “Guriatã”.
Para Ti – Batuque e melodia dos cantos é o primeiro álbum do produtor musical, que classifica sua obra como um ensaio autobiográfico e étnico-musical de um Brasil Real. Isso porque as composições do disco são um resumo dos 50 anos de vivências e sentimentos fornecidos pelas experiências do músico, educador, produtor musical/cultural, pesquisador e curioso.
Formada em composição e regência, mestre e doutoranda em performance Musical pela UNESP, tem se apresentado em todo o Brasil e Europa ao lado de artistas como A Barca, Ponto br, Tião Carvalho, Sebastião Biano, Orquestra Popular do Recife e outros.
Pesquisadora e contrabaixista, desde 1991 reúne o Acervo Maracá, tendo produzido mais de 30 CDs e 12 documentários de gêneros tradicionais que receberam diversos prêmios como Lati Grammy, Rodrigo Melo Franco de Andrade e outros.
Recebeu por duas vezes o prêmio Interações Estéticas da Funarte, realizando residências artísticas no Maranhão e no Benin. Autora de Pedra da Memória, ministra cursos e oficinas com foco em Cultura Tradicional em escolas e universidades, atualmente sendo responsável pela disciplina de Etnomusicologia no IA Unesp.
1. Marujo Du Mar (Tradicional – Adaptação: A Barca)
2. Coco dendê Trapiá (Tradicional – Adaptação: A Barca)
3. Ô Baiana (Tradicional – Adaptação: A Barca)
4. Manué (Tradicional – Adaptação: A Barca)
5. Mandei Fazer Uma Rede (Tradicional – Adaptação: A Barca)
6. Justino Grande (Tradicional – Adaptação: A Barca)
7. Batuque de Pirapora (Geraldo Filme)
8. Boi de Orerê (Fulô)
9. Mina Terê Terê (Tradicional – Adaptação: A Barca)
10. Doçu Semenomé (Tradicional – Adaptação: A Barca)
11. Terra Do Caranguejo (Raimundo “Tico”) / Aruê, Aruá (Tradicional – Adaptação: A Barca)
12. Marajó Já Teve Fama (Tradicional – Adaptação: A Barca)
13. Patrão, Prenda Seu Gado (Pixinguinha, Donga e João Da Baiana)
14. Ê Tum (Tradicional – Adaptação: A Barca)
15. Tá Lá Meu Boi (Tradicional – Adaptação: A Barca)
16. Vovó, Pra Quê Tu Qué O Didá ? (Totonho) / Vovó Não Qué Casca de Coco No Terreiro (Tradicional – Adaptação: A Barca)
17. O Sol Lá Vem (Tradicional – Adaptação: A Barca) / O Poeta Come Amendoim (Mário de Andrade)
18. Mestre Carlos / Nãnã-giê (Tradicional – Adaptação: A Barca)
19. Adeus Meu Lindo Amor (Tradicional – Adaptação: A Barca)
Músicos
Sandra Ximenez – Voz
Juçara Marçal – Voz
Marcelo Pretto – Voz
Renata Amaral – Baixo e Vocal
Lincoln Antonio – Piano, Fender Rhodes, Sanfona e Vocal
Chico Saraiva – Violão, Viola e Cavaquinho
Thomas Rohrer – Rabeca e Sax Soprano
Ligeirinho – Pandeiro, Congas, Tambu, Timba, Ganzás, Maracás, Matraca, Cuíca, Tamborim, Repique e Apito
Valquíria Roza – Pandeiro, Caixas, Tambu, Ganzás, Agogô, Triângulo, Ferro, Pratos, Apito e Vocal
Beto Teixeira – Ganzás
Participações Especiais
Aguinaldo Pereira – Guitarra em "Ê Tum".
Maurício Alves – Caixa e Ganzá em "Manué" e Tambu em "Mestre Carlos / Nãnã-giê.
André Magalhães – Bateria em Justino Grande, Matraca em Aruê, Aruá e Pratos em Marajó Já Teve Fama.
Produção
André Magalhães
Co-produção
Lincoln Antonio e Renata Amaral
APONTAMENTOS DE VIAGEM
“Me dá uma angústia atualmente imaginar em Brasil... É uma entidade creio que simbólica este país. Realidade, não me parece que seja não e quanto mais estudo e viajo as manifestações concretas do mito, mais me desnorteio e, entristecer, não posso garantir que me entristeço: me assombro.” Mário de Andrade, “Sinhô”, Táxi e Crônicas do Diário Nacional
Na aula “O artista e o artesão” (in O Baile das Quatro Artes), Mário de Andrade discute a importância do artesanato como parte da técnica artística que se pode ensinar, que é necessária para movimentar o material, pra que a obra de arte se faça. Técnica demais, porém, pode descambar para uma virtuosidade perigosa, vazia, ou para um formalismo excessivo, distanciando a obra de sua função social. É preciso que haja “um justo equilíbrio entre a arte e o social, entre o artista e a sociedade”. Portanto, é necessário que o artista adquira “uma severa consciência artística que o moralize”, envolvendo-se com os problemas imediatos do seu tempo. Essa dimensão social da arte não se localiza fora dela, mas no próprio fazer artístico.
O trabalho da Barca começa do aprendizado e movimentação de um material específico: a música vinda das tradições populares de todo o Brasil. São melodias, ritmos, vozes, timbres e versos de artistas anônimos, como finas camadas de areia que vão se sobrepondo ao longo do tempo. Sempre em transformação, a arte popular é genuinamente social, porque funcional, seja no sentido lúdico ou religioso. Ela precisa interessar, sempre. Na sua origem está a busca da comunicação entre os homens.
Baseado nesse desejo de comunicação, nos lançamos a essa tarefa nada simples de pesquisar, estudar e apresentar esse material, sempre atentos às suas características e exigências, porque “se o espírito não tem limites na criação, a matéria o limita na criatura”.
Turista Aprendiz, o show, é antes um ensaio, um jogo, um brinquedo. Não tem intenções formalistas. Foi produto desse desejo de mostrar, primeiramente ao público paulistano, algo da cultura popular brasileira, aquilo que nos diferencia e singulariza frente ao “concerto das nações”.
Em janeiro de 1999 a Barca viajou por cidades do interior do Pará e do Maranhão mostrando essa experiência e conhecendo muitas outras coisas que acabaram influenciando nosso trabalho e entrando para o repertório do grupo. Essa viagem, marcada pela vontade mútua de compartilhar experiências, nos deu uma visão muito clara do quanto a música brasileira é ao mesmo tempo múltipla e integradora. Tocando e cantando, a gente se entende.
Portanto, é confiando nesse ethos da música popular brasileira que a Barca continua essa grande viagem de aprendizado, chegando agora ao formato de CD.
REPERTÓRIO
CHEGANÇAS - No Brasil, a reunião de figuras e temas marítimos de origem ibérica deu origem à dança dramática conhecida como chegança em Sergipe, fandango nas Alagoas, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte, barca ou nau catarineta na Paraíba. Entre as cenas, o embarque, a despedida, a vida no mar, aventuras, a tempestade, a fome, até novamente alcançar “terras de Espanha e areias de Portugal”, para daí novo embarque e etc.
COCOS - Mário de Andrade anotou por volta de 300 cocos quando viajou ao Nordeste em 1928-9. O SOL LÁ VEM ele ouviu na Paraíba. De COCO DENDÊ TRAPIÁ ouviu duas versões, uma no Rio Grande do Norte e outra na Paraíba, e anotou: “este coco está espalhadíssimo e já deu maxixe. Creio mesmo que foi por este que se vulgarizou. ‘Vulgarizou’ em todos os sentidos, banalizado na rítmica batida das síncopas comuns. É pra se cantar com a máxima naturalidade, refrão elástico, sem dureza nem pressa, com ‘jeitinh’ que nem o da minha colaboradora, coqueira hábil, pajem do Bom Jardim”.
Da boca de Chico Antônio, célebre coqueiro também do Bom Jardim, engenho do Rio Grande do Norte, ouviu Ô BAIANA, que lembra o samba Escurinha de Geraldo Pereira. Chico Antônio foi uma das “comoções mais formidáveis” da vida de Mário de Andrade. Escreveu em seu diário de viagem O Turista Aprendiz: “Não sabe que vale uma dúzia de Carusos. Vem da terra, canta por cantar, por uma cachaça, por coisa nenhuma e passa uma noite cantando sem parada. O que faz com o ritmo não se diz! Enquanto os três ganzás se movem interminavelmente no compasso unário, na ‘pancada do ganzá’, Chico Antônio vai fraseando com uma força inventiva incomparável, tais sutilezas certas feitas que a notação erudita nem pense em grafar, se estrepa. E quando tomado pela exaltação musical, o que canta em pleno sonho, não se sabe mais se é música, se é esporte, se é heroísmo.” JUSTINO GRANDE e Ê TUM são outros dois cocos cantados por Chico Antônio.
MÚSICA DE FEITIÇARIA - Mário de Andrade reuniu sob este título uma conferência e as linhas de catimbó que recolheu em Natal, na Paraíba e em Pernambuco. A Missão de Pesquisas Folclóricas gravou dez anos depois a música do xangô, no Recife, do tambor de mina, em São Luís, do babaçuê e da pajelança, em Belém, além do catimbó, na Paraíba. Embora seja um bom painel da música nas religiões populares brasileiras, está longe de estar completo, como mostra a ausência do candomblé, da umbanda e do catolicismo.
Catimbó era o nome genérico de práticas religiosas que incluíam elementos da pajelança indígena, da feitiçaria e do espiritismo europeu, entre outros. Câmara Cascudo, que por vinte anos estudou o assunto e hospedou Mário de Andrade quando de sua visita a Natal, escreveu em seu Meleagro: no catimbó, “a ‘linha’ é o canto entoado pelo ‘mestre da mesa’ e continuado, através de sua boca, pelo ‘mestre’ invisível. A finalidade mágica do canto era indiscutida. Conservamos o ‘encanto’ de ‘em-canto’, no canto. Agindo diretamente sobre a emoção, criadora da energia psíquica, o canto uniformiza, sugere um estado, um nível de extrema receptividade. Todas as religiões o adotaram.”
MESTRE CARLOS era um dos “mestres invísiveis” mais populares nos catimbós do Nordeste. Protetor dos moços, casamenteiro, foi quem terminou de “fechar o corpo” de Mário de Andrade na última sexta-feira do ano de 1928, em Natal: “veio afinal o complacente Mestre Carlos e entre cruzes e defumações intermináveis do meu corpo e eu com os pés numa aguinha de bacia que simbolizava o mar, o fechamento de meu corpo se acabou por ele e pela bonita NÃNÃ-GIÊ. Sou obrigado a confessar que agora, passado os ridículos a que me sujeitei por mera curiosidade, estou tomado de lirismo, vou me deitar matutando com Nãnã-Giê, marvada! ficou um momentinho só na minha frente e foi-se embora, sarará, corada, boca de amor, corpo de bronze novo...” Nãnã, orixá nagô, velha senhora das águas paradas, ganha no catimbó o atributo Giê e já não é velha, é menina e trabalha no fundo do mar.
Tambor de mina é a religião popular do Maranhão, originária de duas casas centenárias de São Luís - a Casa das Minas-Jeje e a Casa de Nagô. Além dos voduns e orixás africanos, no tambor de mina baixam também outras linhas de encantados, como a gentilharia e os numerosos caboclos. Jorge de Iemanjá nos contou que “na mina desce todo o tipo de gente. Quando os orixás e voduns chegaram aqui viram que a terra já tinha dono: os índios e os caboclos”. E continua: “tentaram proibir, a polícia perseguiu e tudo, mas é uma religião muito popular, muito natural. Aqui o vodum desce e vai na igreja batizar a criança. Depois vai pra festa, bebe, come, dança e vai embora”. MINA TERÊ TERÊ foi gravada pela Missão, em 1938, num terreiro que não existe mais. Porém, esta doutrina ainda é cantada no Maranhão, sofrendo alterações de melodia e letra, conforme ouvimos com Seu Bibi, batazeiro da Casa de Nagô e D. Zizi.
Em Pirapemas, interior do Maranhão, conhecemos três figuras do tambor de mina com quem aprendemos muitas coisas. Seu Luís é filho de Xangô, tem como guia chefe Luís Reis de França, e como encarregado de serviço o caboclo Batatinha Croatá. As três raças guiam o velho sacerdote que chefia um terreiro de mina e uma tenda espírita, além de ser vidente e curandeiro. Sonha com um seminário onde se formariam os pais de santo, “é preciso saber muito para abrir um tambor”. Indagado sobre sua religião, perguntou, “pode começar do princípio?”, e nos contou, com incrível riqueza de detalhes, a história da Criação.
D. Gildete é filha-de-santo de Seu Luís... Seu Manuel, dono de um vozeirão treme-terra, é batazeiro dos mais solicitados da região, capaz de tocar dois tambores ao mesmo tempo, se faltar quem toque. Está na mina desde sempre, seu pai era chefe de terreiro e seu tio sabia ficar invisível quando queria. Nos apresentou ao juremal, morada dos caboclos, estância celeste herdada do catimbó, reino de onde vêm as melodias mais bonitas que conhecemos.
Cantada por Satiro Ferreira Barros, chefe do terreiro de babaçuê em Belém, MARAJÓ JÁ TEVE FAMA é uma pajelança de Mestre Marajó. Jorge de Iemanjá nos disse que “o babaçuê é uma estilização do tambor de mina aculturado no Pará”. D. Zizi conheceu Satiro e nos cantou algumas doutrinas de Barba Suêra, identificada com Santa Bárbara, chefe de todos os terreiros mina. Já esta pajelança parece aproximar-se das práticas do catimbó, que na mina assemelha-se à linha de cura.
MELODIAS DO BOI - O tema do boi é encontrado em todo o país. Bumba-meu-boi, bumba-boi ou boi-bumbá é sinônimo de grande festa no Norte. O refrão Ê MANUÉ é uma toada de boi-bumbá de Belém do Pará, que em nossa versão somou-se a uma embolada pernambucana e virou coco. Do recôncavo baiano vem o BOI DE ORERÊ, boi de roça, modalidade do aboio, que é o canto do vaqueiro, popular no mundo todo. Várias outras melodias do boi fazem parte do repertório da Barca, como as toadas da dança da mangaba do Maranhão, da banda de congos capixaba, o coco Boi Valeroso, e outras que ficaram pra próxima...
CARIMBÓ - o carimbó está para o Norte assim como o forró está para o Nordeste. É música de festa, onde se dança até o dia amanhecer. A Barca conheceu e tocou com alguns grupos de carimbó do Pará, como Os Brasas Vivas, de Terra Alta, Nova Zimba e Canarinho, de Maracanã, sempre com a formação de pau-e-corda, ou seja, tambores (os carimbós), ganzá, banjo, sopro e voz. ARUÊ, ARUÁ e SANTARÉM NOVO são toadas cantadas pelos Quentes da Madrugada, grupo de carimbó de Santarém Novo.
JONGOS - batuque de origem banto, “jongo” parece vir do termo quimbundo ndjongö que significa “criação, descendência” e que teria, aqui, tomado o sentido de “reunião de familiares”, segundo Nei Lopes em seu livro Bantos, malês e identidade negra.
Uma fogueira à beira da via Dutra e a roda de jongo se formando a partir dos tambores, afinados no fogo. Assim conhecemos o jongo no bairro de Tamandaré, em Guaratinguetá (SP), por ocasião das festas juninas. O ponto VOVÓ, PRA QUE TU QUÉ O DIDÁ ? é de Totonho, uma das figuras centrais do jongo de Guará. VOVÓ NÃO QUER CASCA DE COCO NO TERREIRO é a versão da comunidade de Tamandaré para um ponto popular, talvez já centenário, também encontrado no samba de roda.
SAMBAS - samba de roda, samba rural, partido alto, samba-maxixe, são muitas as manifestações do nacionalíssimo samba. Oriundo dos batuques banto, desenvolveu-se no Brasil em várias direções. Uma delas vem da Bahia para as festas na casa de Tia Ciata, no Rio de Janeiro, onde se reunia a elite cultural negra da virada do século. Depois se organiza no Largo do Estácio, sobe o morro e entra no repertório dos músicos populares que se profissionalizavam nos teatros, nas gravações e no rádio, até chegar nos grandes nomes da década de trinta, quando o gênero se estabeleceu como conhecemos até hoje. A antiga chula raiada PATRÃO, PRENDA SEU GADO assumiu sua identidade como samba ao receber novo arranjo das mãos de Pixinguinha, Donga e João da Baiana, precursores do gênero.
Uma outra direção, a do samba paulista, começa a ser traçada. O samba BATUQUE DE PIRAPORA, de Geraldo Filme, conta um pouco a história do gênero em São Paulo, onde o elemento negro somou-se a cultura cabocla ou caipira. Em festas como a de Bom Jesus de Pirapora, às margens do rio Tietê, reuniam-se romeiros e batuqueiros de diversas cidades do estado. Maria Esther, a “dona do samba” em Pirapora, nos ensinou alguma coisa deste samba rural, ou “samba do tempo antigo”, como gosta de dizer. Aos 75 anos de idade e mais de 60 de samba, nos alertou: “idade não regula, o que conta é o rebolado”.
1. Minha Gente Venha Ver
2. Mestre Rei dos Mestres Chegou
3. A Sala Tá Cheia
4. Tapuia Jacarandá
5. Balão de Ouro
6. Amor Com Guerreiro
7. Dindinha Luzia
8. No Terreiro de Vovó Luzia
9. Tapindaré
10. Alumiou
11. Eu Só Vim Aqui Porque Fui Chamado
12. Tombador
13. Ana Mora Na Cacimba
14. Vassourá
15. Caranguejinho
16. Jurarazinho
17. Guará Mirim
18. Periquitinho
19. Lá Na Aldeia
20. Eu Sou Bem Pequenininha
21. A Mamãe Tá Chorando
22. Menina Da Gameleira
23. Flor Jurema
24. Chica Nana Painana
25. Camisa de Renda
26. O Tempo Foi O Meu Mestre
27. Miguel
28. O Baião Já Vai Fechar
Todas as faixas são de domínio público, adaptadas pela Casa Fanti Ashanti e A Barca.
Músicos
CASA FANTI ASHANTI
Babalorixá Euclides Menezes Ferreira TALABYAN – voz e cabaça
Ebâmi Anunciação Menezes IKAREJYI – voz e castanholas
Ekedi Maria José Menezes ALADÊYI – voz e castanholas
Graça Reis de Menezes – voz e cabaça
Bartira Menezes Stanislaw – voz e castanholas
Ogan Henrique Menezes OSSONYILÉ – pandeiro e voz
Téo Menezes – percussão
A BARCA
Juçara Marçal – voz e castanholas
Sandra Ximenez – voz e castanholas
Marcelo Pretto – voz e pandeiro
Thomas Rohrer – violino e rabeca
Lincoln Antonio – piano e sanfona
Renata Amaral – baixo e voz
Chico Saraiva – violão e cavaquinho
Ricardo Mendonça – percussão e cavaquinho
Ligeirinho – pandeiro
Direção e produção musical
Renata Amaral e Lincoln Antonio
Produção fonográfica
CPC-UMES
O CD Baião de Princesas registra o encontro da Barca com a comunidade da Casa Fanti-Ashanti, cuja cultura há muito documentamos em gravações, fotos e entrevistas, já rendendo o CD Tambor de Mina na virada pra mata. A convivência com Dindinha e Zezé, irmãs de Pai Euclides que anualmente visitam São Paulo, e com Graça, Bartira, Henrique e Téo, da mesma família de sangue e de santo que moram na cidade, foi afirmando essa musicalidade no repertório do grupo, e alguns integrantes da Barca foram tocar e dançar no terreiro, tomando parte no Baião realizado em 2000.
Ao contrário do CD anterior, Turista aprendiz, onde numa viagem pelo Brasil mapeávamos uma grande quantidade de gêneros do sudeste ao norte do país, atentando para a diversidade dessas manifestações reunidas pelo nosso olhar, desta vez nosso foco se atém em um recorte bem específico: o repertório de um único ritual anual de um terreiro de São Luís, Maranhão, apontando a diversidade dentro deste universo aparentemente tão reduzido. Com a colaboração do Espaço Cachuêra!, gravamos 35 músicas diferentes, ao vivo, em 4 sessões, com a presença de Pai Euclides e sua família.
Acreditando na cultura tradicional como material de formação do artista brasileiro e matéria-prima para uma criação artística universal, a Barca é um grupo paulista que trabalha com a pesquisa e a movimentação da cultura popular brasileira, buscando uma reflexão abrangente sobre o fazer artístico e suas responsabilidades estéticas e sociais. Produzidas muitas vezes em situações de conflito, miséria e exclusão social, é assombrosa a força criativa e a elaboração estética dessas manifestações. Indissociáveis, dança, música, poesia e plasticidade, exercem papel fundamental na organização das relações sociais e na formação ética dessas comunidades, sendo material consagrado de formação musical, corporal e social do indivíduo, e ferramenta de reflexão e afirmação de sua identidade.
O encontro de uma comunidade tradicional com artistas contemporâneos traz o risco e a graça do improviso e da experimentação, a troca e a descoberta de uma terceira via para o fazer musical, onde limites como cultura erudita e popular, tradição e contemporaneidade, sagrado e profano, devoção e diversão se desfazem. Esses cantos são melodias e ritmos matrizes da nossa música brasileira, arte contemporânea e atemporal que se une à religião como um caminho de duas mãos onde a arte é ferramenta e veículo para a espiritualidade, e a religião veicula e harmoniza a vocação artística, permitindo aos iniciados exercerem seus talentos de músicos, dançarinos, designers, cantores excelentes que são.
A Casa Fanti Ashanti, em atividade desde 1954, é um verdadeiro centro de cultura popular maranhense, onde num calendário anual repleto, se realizam com capricho e rigor uma grande quantidade de manifestações sagradas e profanas como os toques de Tambor de Mina, Candomblé, Cura/Pajelança, Baião de Princesas, Samba Angola, Mocambo, Bancada, Avaninha, Encruzo, tambor de choro, almoço dos cachorros, tambor de crioula, tambor de taboca, bumba-boi de baixada, festa do Divino, carimbó de caixa, queimação de palhinhas, ladainhas, procissões e inúmeros outros rituais internos.
Pai Euclides Talabyian, chefe da casa, é um babalorixá internacionalmente conhecido, comendador da república, autor de quatro livros sobre cultura afro-brasileira e iniciador de dezenas de pais de santo espalhados por todo o Brasil. Chefia com esmero a enorme família dos filhos, sobrinhos e netos de santo, de sangue e de afinidade, que junto com os voduns e encantados que carregam engendram uma convivência social que harmoniza de maneira tão complexa quanto natural os planos social, espiritual e artístico.
O ritual do Baião
O Terreiro do Egito foi fundado por Massinokou Alapong em dezembro de 1864 , tendo como primeira festa o ritual do Baião de Princesas. Devido à perseguição policial da época, que se estendeu até os anos 40 em São Luís, o ritual se disfarçava de festa profana, onde os tambores davam lugar a instrumentos como o violino – o maestro do conjunto - sanfona, violão, cavaquinho ou bandolim e os adufes, pandeiros sem platinelas utilizados na época.
As mulheres se enfeitam como para um baile, com saias coloridas, xales, leques, muitas jóias, colares, fitas e outros adornos, além das mantas de miçangas que vestem ao receber suas encantadas. Usam penteados elaborados e tocam castanholas. Extremamente feminino, neste ritual só as mulheres dançam, e as encantadas que se manifestam também são em sua maioria princesas, rainhas, meninas, mães-d’água, ainda que como numa verdadeira festa orixás e voduns se manifestassem para assistir à dança. Considerado como da linha de cura ou de água doce, se difere da cura ou pajelança por ter rituais internos secretos que antecedem a festa pública, quando na cura todos os procedimentos e ferramentas rituais estão expostos na mesa do pajé.
Obarí, Bela Infância, Belinha, Menina da Gameleira ou do Caxangá são alguns dos nomes pelos quais é conhecida Nôche Dantan, vodum chefe do Baião, que se abre e fecha invocando São Gonçalo do Amarante e Rei dos Mestres, outro nome do vodum Liçá – relacionado a Oxalá - que é o responsável pelo andamento do ritual.
Meu São Gonçalo venha ver festa de encantaria
Venha ver meu Mestre Rei dos Mestres venha ver a estrela que nos guia.
Encantados no mar, nas matas, ilhas, croas, árvores, rios, pedras e serras, formam uma outra geografia maranhense que elimina os limites do espaço físico e mítico. A praia dos Lençóis, a Ilha dos Caranguejos e a pedra de Itacolomi são locais de morada de encantados onde todo mundo vai passear. Transformam o tempo cronológico em “social”, onde figuras das mais diferentes épocas e países se encontram e se relacionam. Numa democracia espiritual sem fronteiras, caboclos, princesas, índios, ciganas, espanhóis, portugueses, turcos, franceses, italianos, havaianas, mães d’água, macacos, peixes, aves, caranguejos, jurarás e até conchinhas realizam plenamente no plano espiritual a miscigenação étnica brasileira, com a naturalidade desconcertante dessa religião voltada para a ancestralidade.
No Terreiro do Egito a festa se iniciava na manhã do dia 12 de dezembro, seguia a tarde varando a noite toda, se encerrando apenas na tarde do dia 13, dia de S. Luzia, quanto começava então o toque de Tambor de Mina para o Rei dos Mestres. Ao longo do dia, crianças e pessoas da assistência, que sempre era muito numerosa, também eram convidadas a dançar, “enchendo a roda” enquanto algumas dançantes paravam para descansar.
“Em tempo de festa, quando o sol da manhã cruzava os céus do Egito, no momento exato em que se cantava para ao Rei dos Mestres, todos os presentes saíam do barracão para o pátio, onde ficava imalé, o pau-da-paciência. Olhando-se para sua extremidade, lá no alto, viam-se as bandeiras hasteadas na montanha, diante de uma grande campina que se estendia até a beira da praia do Cajueiro. Era exatamente nesse momento que acontecia a miscigenação espiritual naqueles negros, que entravam em transe para exibir suas danças, crenças e magias, contagiando os freqüentadores com as vibrações positivas que os ashantis emanavam, gozando da liberdade de estar num verdadeiro quilombo. Os negros desse terreiro tinham o dom de compositores no momento de seus transes, manifestando-se espontaneamente... “
Euclides Talabyan, em Tambor de Mina em Conserva (2002)
HISTÓRIAS DE ENCANTARIA
O violino de Manoel Garcez
Manoel Garcez, o Manoel Piloto, que muitas vezes tocava o violino no Baião do Egito, era curador bruxo afamado do Igapara, terra onde Pai Euclides abriu seu primeiro barracão, aos 17 anos. Festeiro e beberrão, tocava violino e outros instrumentos em bailes, mas quando queria beber ou descansar, para não parar o baile, pedia ao dono da casa um pano branco, com o qual cobria o violino que continuava tocando sozinho, o arco se movendo sob o pano.
Dizia-se que quem tocava o violino era Alonso, seu diabo particular, que certa vez fez aparecer a Pai Euclides como um homem de pele azul levemente cintilante e terno caqui. Esse violino foi dado por Manuel Piloto antes de morrer a Corre Beirada, encantado de Pai Euclides.
O navio de D. João
O Terreiro do Egito ficava sobre o Rio Itaqui, porto importante próximo ao mar, numa área de antigos quilombos. Uma das grandes atrações do Baião de Princesas, que deslocava dezenas de pessoas para assistir à festa, era a visita do Navio Encantado de D João. Todos os anos, esse navio chegava ao Egito no dia 12 de dezembro, e lá permanecia ancorado, à vista de todos, por três ou quatro dias. Sua chegada e partida eram anunciadas pelo vodum chefe da casa, e cumpridas à risca.
Na hora anunciada, o navio se aproximava deixando ver em seu interior uma grande movimentação. A distância era suficiente para se ver a decoração do navio, suas bandeirolas e sua iluminação, que chegava a clarear a encosta do terreiro durante a noite. Via-se então pessoas saltando do navio e pegando pequenas canoas a remo, e enquanto essas canoas se aproximavam da margem, a música já soava no barracão, e as dançantes iam entrando em transe com os encantados chegados, principalmente os nobres, reis e princesas como D. João e sua família, D. Carlos da Gama, Rei Sebastião, D. Luís Rei de França e Manoel Pretinho, o piloto do navio.
Ao término dos festejos, o navio ia embora, mas não se podia vê-lo sumir no horizonte. Ele se afastava cerca de trezentos metros em direção ao mar, e então afundava lentamente nas águas do Itaqui. Sua última aparição foi em 1978, um ano antes da extinção do terreiro centenário.
Coordenação – Renata Amaral
Direção Musical – Lincoln Antonio e Renata Amaral
Produção Musical – André Magalhães
Direção De Produção – Patrícia Ferraz
Produção Nordeste – Amélia Cunha
Produtores Locais
Assistente De Produção – Bruna Zagatto e Nathalia Magalhães
JProjeto Gráfico – André Hosoi e Fabiana Queirolo
Fotos – André Magalhães, Angélica Del Nery, Ernani Napolitano, Marcelo Pretto, Olindo Estevan, Patrícia Ferraz, Renata Amaral
Ilustração Em Tecido – Ionit Zilberman
Fotos Ilustração Em Tecido – Diego Rinaldi
Desenhos – Marcelo Pretto
Edição De Textos – Juçara Marçal, Lincoln Antonio, Renata Amaral
Tradução – Augusto César/p>
Assessoria De Imprensa – Ecoar Escritório De Comunicação e Artes, Railídia Carvalho, Viviana Pereira
Motoristas – Flecha e Bessa
Em Memória De Ricardo Mendonça e Ney Mesquita
O projeto Turista Aprendiz, do grupo A Barca, percorreu de dezembro de 2004 a fevereiro de 2005 mais de 10 mil km por 9 estados brasileiros, do Pará a São Paulo. Com patrocínio da Petrobras, cerca de 40 comunidades tradicionais foram visitadas, desde quilombos e aldeias indígenas até periferias das grandes capitais, pequenas cidades ribeirinhas, litorâneas e sertanejas.
Além de movimentar a cultura local realizando oficinas e shows gratuitos nos mais diversos espaços, A Barca fez registros inéditos em áudio e vídeo de diversas manifestações culturais, chamando a atenção dos órgãos oficiais e trazendo visibilidade ao trabalho artístico dessas comunidades. Gravado com excelente qualidade técnica, o acervo reunido inclui 300 horas de áudio e vídeo e 6 mil fotos, e mostra uma cultura popular exuberante e vigorosa, onde o talento dos artistas e a vitalidade das tradições revelam diversidade e identidade em um Brasil contemporâneo.
Parte desse material foi finalizado na caixa Trilha, Toada e Trupé, uma coletânea de três CDs e um DVD documentário que revelam pequena parte destes registros. A íntegra destas gravações foi duplicada e devolvida aos grupos, resultando já em três CDs produzidos por iniciativa das próprias comunidades: Carimbó de Santarém Novo (PA), patrocinado também pela Petrobras; Sítio de Pai Adão – ritmos africanos no Xangô do Recife, apoiado pela FUNDARPE; e União dos Artistas da Terra da Mãe de Deus, reunindo grupos de Reisado, Guerreiro e Rabeca de Juazeiro do Norte (CE).
Com a Coleção Turista Aprendiz, mais sete CDs e um DVD documentário trazem a público uma parte significativa deste rico material, apresentando algumas das comunidades que se destacaram por seu repertório artístico, o talento de seus músicos e cantores e a força de suas tradições. O DVD contém sete documentários em curta metragem apresentando cada uma das sete comunidades retratadas nos CDs.
Esses gêneros são as manifestações através das quais o povo brasileiro veicula e harmoniza sua vocação artística, sua corporalidade, sua espiritualidade. De enorme sofisticação e força criativa, cada brasileiro que se depara com essas manifestações experimenta inevitavelmente uma redescoberta da própria identidade e uma surpresa diante do alto nível de elaboração estética desses artistas. Por seu papel na organização social e na formação ética dessas comunidades, esse material é ainda instrumento precioso para a formação corporal, social e cultural do indivíduo. Música contemporânea e atemporal.
“Do fundo das imperfeições de tudo quanto o povo faz, vem uma força, uma necessidade que, em arte, equivale ao que é a fé em religião. Isso é que pode mudar o pouso das montanhas.”
Mário de Andrade
1. Abertura (A Barca) – Participação de Elza de Caiana dos Crioulos (PB)
2. Cobra Salamanta (Tradicional – Adaptação: A Barca)
3. Na Reunida Flor Do Campo Chegou (Emilio Silva)
4. Mucura (Tradicional – Adaptação: A Barca)
5. Estrela Guia (Totonho)
6. Dona Maria (Tradicional – Adaptação: A Barca)
7. Dona Mariquinha (Mestre Verdelinho)
8. Galho Da Limeira (Tradicional) – Participação de Mestre Verdelinho (Al)
9. Oleleô Cauã (Tradicional) – Participação de Biu Roque e Coco Da Zona Da Mata (PE)
10. Bichinho Canário (Tradicional)
11. Cirandeira (Tradicional – Adaptação: A Barca)
12. São João (Tradicional) / Santo Antônio (Maria José Menezes)
13. Maracá de Prata (Humberto de Maracanã) – Participação de Humberto de Maracanã (MA)
14. Senhor São João (Humberto de Maracanã) – Participação de Humberto de Maracanã (MA)
15. Sol Nascente (Tradicional)/ Estrela Brilhante Quando Sai (Mestre Walter) – Participação de Mestre Walter França (PE)
16. Ararinha (Tradicional – Adaptação: A Barca) – Participação de Manoel Batazeiro (MA)
17. Guajira Espúria (Tradicional – Adaptação: A Barca)
18. Santa Bárbara (Tradicional – Adaptação: A Barca)
19. Elemi Oxum (Tradicional – Adaptação: A Barca)
20. Ô Linda (Tradicional – Adaptação: A Barca)
21. O Forofô (Tradicional – Adaptação: A Barca)
22. Tambô Zuô (Tradicional – Adaptação: A Barca)
23. Caboco Roxo (Tradicional – Adaptação: A Barca) – Participação de Ligeirinho
24. Ciranda Por despedida (Tradicional) – Participação Odete de Pilar
Gravado no Estúdio Zabumba entre maio de 2004 e novembro de 2005 por André Magalhães.
Faixas ao vivo gravadas entre dezembro de 2004 e janeiro de 2005 por Ernani Napolitano.
“Tambô zuô” gravado ao vivo no Centro Cultural São Paulo por Ernani Napolitano em 1999.
Músicos
André Magalhães – bateria e percussão
Ari Colares – percussão
Chico Saraiva – violão
Juçara Marçal – voz
Lincoln Antonio – piano, teclado, sanfona e pífano
Marcelo Pretto – voz
Renata Amaral – baixo, vocal e flauta contralto
Sandra Ximenez – voz
Thomas Rohrer – rabeca e saxofone
Assistentes
Felipe Julian e Felipe Magalhães
Mixagem e masterização
André Magalhães
Mixagens adicionais
Beto Mendonça e Fábio Martins
Este CD foi lançado originalmente na caixa Trilha, toada e trupé, resultado da viagem da Barca por 9 estados brasileiros.
A caixa Trilha, Toada e Trupé, lançada em 2006 reúniu o melhor da colheita em dois CDs dedicados aos grupos e artistas regionais, um DVD apresentando toda a viagem num registro poético guiado mais uma vez por Mário de Andrade, e o CD TRILHA, trazendo gravações da Barca em estúdio (antes e depois da viagem) e também algumas faixas ao vivo gravadas nos shows da viagem com participações diversas. Este é o CD que é agora lançado separadamente e acrescido de uma faixa bonus inédita, gravada ao vivo em show ainda no início do grupo em 1999.
1. Andorinha do Céu (Acústica)
Gravado no estúdio Arsis em São Paulo, por Adonias Jr.
Mixado e Masterizado por André Magalhães
Distribuição: Tratore
Músicos
André Magalhães – bateria e percussão
Ari Colares – percussão
Chico Saraiva – violão
Laeticia Madsen – voz
Lincoln Antonio – piano
Marcelo Pretto – voz
Renata Amaral – baixo
Participações
Dindinha – voz solo
Zezé Menezes – voz
Graça Reis – voz
Bartira Menezes – voz
1. Abertura (A Barca) – Participação de Elza de Caiana dos Crioulos (PB)
2. Cobra Salamanta (Tradicional – Adaptação: A Barca)
3. Na Reunida Flor Do Campo Chegou (Emilio Silva)
4. Mucura (Tradicional – Adaptação: A Barca)
5. Estrela Guia (Totonho)
6. Dona Maria (Tradicional – Adaptação: A Barca)
7. Dona Mariquinha (Mestre Verdelinho)
8. Galho Da Limeira (Tradicional) – Participação de Mestre Verdelinho (Al)
9. Oleleô Cauã (Tradicional) – Participação de Biu Roque e Coco Da Zona Da Mata (PE)
10. Bichinho Canário (Tradicional)
11. Cirandeira (Tradicional – Adaptação: A Barca)
12. São João (Tradicional) / Santo Antônio (Maria José Menezes)
13. Maracá de Prata (Humberto de Maracanã) – Participação de Humberto de Maracanã (MA)
14. Senhor São João (Humberto de Maracanã) – Participação de Humberto de Maracanã (MA)
15. Sol Nascente (Tradicional)/ Estrela Brilhante Quando Sai (Mestre Walter) – Participação de Mestre Walter França (PE)
16. Ararinha (Tradicional – Adaptação: A Barca) – Participação de Manoel Batazeiro (MA)
17. Guajira Espúria (Tradicional – Adaptação: A Barca)
18. Santa Bárbara (Tradicional – Adaptação: A Barca)
19. Elemi Oxum (Tradicional – Adaptação: A Barca)
20. Ô Linda (Tradicional – Adaptação: A Barca)
21. O Forofô (Tradicional – Adaptação: A Barca)
22. Tambô Zuô (Tradicional – Adaptação: A Barca)
23. Caboco Roxo (Tradicional – Adaptação: A Barca) – Participação de Ligeirinho
24. Ciranda Por despedida (Tradicional) – Participação Odete de Pilar
1. tava dormindo o tambor me chamou – REDANDÁ (SP)
2. pontos de candombe – CANDOMBE DE JUSTINÓPOLIS (MG)
3. minha santa graça – MOÇAMBIQUE DE JUSTINÓPOLIS (MG)
4. samba e dança crioula – MOÇAMBIQUE DE JUSTINÓPOLIS (MG)
5. encomendação de almas - CANTADEIRAS DO SOUZA (MG)
6. cantigas de roda – CANTADEIRAS DO SOUZA (MG)
7. minha sabiá, minha zabelê - PAVÃO DOURADO (BA)
8. rala o coco, siriri – PAVÃO DOURADO (BA)
9. rapaz solteiro da perfumaria – PAVÃO DOURADO (BA)
10. cantigas de roda - TUNINHA E LUZIA (BA)
11. pisa morena – KARIRI XOCÓ (AL)
12. acauã mais bonita – KARIRI XOCÓ (AL)
13. vadiemo n´Aruanda – KARIRI XOCÓ (AL)
14. ê lagoana – KARIRI XOCÓ (AL)
15. eu não sou daqui – QUIXABEIRA (BA)
16. bateu asa e cantou o galo / Menino Jesus da Lapa - REISADO DE MESTRE ALDENIR (CE)
17. Romance da Nau Catarineta – BARCA SANTA MARIA (PB)
18. meus senhores oficiais – CHEGANÇA SILVA JARDIM (AL)
19. a fragata corre no sereno mar – CHEGANÇA SILVA JARDIM (AL)
20. – NELSON DA RABECA (AL)
21. desperta rabeca velha - ZÉ OLIVEIRA (CE)
22. martelo agalopado - MESTRE VERDELINHO (AL)
23. canoa o vento que me levar - MANERO PAU DE MESTRE CIRILO (CE)
24. Maria Bonita - MANERO PAU DE MESTRE CIRILO (CE)
25. abre-te jurema – JUREMA DE DONA MARIA (PB)
26. besouro mangangá – JUREMA DE DONA MARIA (PB)
27. beira mar - TENDA S O JOSÉ (MA)
28. volta do mundo - TENDA SÃO JOSÉ (MA)
29. lá vai meu boi balançando suas fitas - MESTRE FABICO (PA)
30. alegria do vaqueiro - BOI BUMBÁ PAI DA MALHADA (PA)
31. reunida - BOI BRILHO DA SOCIEDADE (MA)
32. urrou - BOI BRILHO DA SOCIEDADE (MA)
33. adeus do príncipe - REI CARIONGO (PA)
1. levanta a poeira – QUIXABEIRA (BA)
2. casa barata - CARIMBÓ OS QUENTES DA MADRUGADA (PA)
3. quando eu morrer – CARIMBÓ OS QUENTES DA MADRUGADA (PA)
4. coco de roda – CAIANA DOS CRIOULOS (PB)
5. na terça fui cantar coco / na vargem de Goiana – COCO DA ZONA DA MATA (PE)
6. meu bombo é gemedor - COCO DA ZONA DA MATA (PE)
7. cana caiana fulô de cubalelê - COCO DA ZONA DA MATA (PE)
8. cordão de ouro, cordão de prata - COCO DA ZONA DA MATA (PE)
9. dei um beijo em Carminha – ODETE DE PILAR (PE)
10. bota barro na parede – ODETE DE PILAR (PE)
11. eu sei o que achei comigo – ODETE DE PILAR (PE)
12. abre-te sede de ouro - GUERREIRO DE MESTRA MARGARIDA (CE)
13. boa noite todos - GUERREIRO DE MESTRA MARGARIDA (CE)
14. barca nova - REISADO DOS IRMÃOS (CE)
15. partilha do boi – REISADO DOS IRMÃOS (CE)
16. galopada – BANDA CABAÇAL DE MESTRE MIGUEL (CE)
17. Talaia - BANDA CABAÇAL DE MESTRE MIGUEL (CE)
18. baião - RABEQUEIROS DA PARAÍBA
19. guerra, perré, tesoura, baiano – CABOCLINHOS CAHETÉS (PE)
20. Toada para Ogum - SÍTIO DE PAI ADÃO (PE)
21. Toada para Obaluaiê - SÍTIO DE PAI ADÃO (PE)
22. Toada para Xangô - SÍTIO DE PAI ADÃO (PE)
23. pai João Congo - CONGO DO QUILOMBO FRECHAL (MA)
24. catita é unxila - CONGO DO QUILOMBO FRECHAL (MA)
25. se o tatu subesse – COCO DE PIRAPEMAS (MA)
26. quem quiser comer mangaba – MANGABA DE PIRAPEMAS (MA)
27. vim salvar São Benedito -TAMBOR DE CRIOULA DE TABOCA DA CASA FANTI ASHANTI (MA)
28. rainha soube o que fez -TAMBOR DE CRIOULA DE TABOCA DA CASA FANTI ASHANTI (MA)
29. baiei na Bahia - TAMBOR DE CRIOULA DE ELIÉSIO (MA)
30. Nganga Muquixe – CONGO DE JUSTINÓPOLIS (MG)
31. saravá Zumbi - JONGO DO TAMANDARÉ (SP)
32. quando eu saí lá de casa - JONGO DO TAMANDARÉ (SP)
33. mãe preta - JONGO DO TAMANDARÉ (SP)
34. ainé Angorô sinhô – REDANDÁ (SP))
35. ará ará ê – REDANDÁ (SP)
36. vapor de Cachoera – QUIXABEIRA (BA)
37. hoje é festa na Mangueira – QUIXABEIRA (BA)
CDs TOADA e TRUPÉ
gravação
ANDRÉ MAGALHÃES
ERNANI NAPOLITANO
edição e mixagem
ANDRÉ MAGALHÃES
pré-edição
LINCOLN ANTONIO
RENATA AMARAL
masterização
FELIPE JULIÁN
CD TRILHA
ANDRÉ MAGALHÃES - bateria e percussão
CHICO SARAIVA - violão e cavaquinho
JUÇARA MARÇAL - voz
LINCOLN ANTONIO - piano, teclado, sanfona e pífano
MARCELO PRETTO - voz
RENATA AMARAL - baixo, vocal e flauta contralto
SANDRA XIMENEZ - voz
THOMAS ROHRER - rabeca e saxofone
gravado no Estúdio Zabumba entre maio de 2004 e novembro de 2005 por ANDRÉ MAGALHÃES
assistentes
FELIPE JULIÁN
FELIPE MAGALHÃES
faixas ao vivo gravadas entre dezembro de 2004 e janeiro de 2005 por ERNANI NAPOLITANO
mixagem
ANDRÉ MAGALHÃES
mixagens adicionais e masterização
BETO MENDONÇA
FÁBIO MARINS
De dezembro de 2004 a fevereiro de 2005, a Barca viajou mais de 10.000 km por 9 estados brasileiros, do Pará a São Paulo, através do Projeto Turista Aprendiz, patrocinado pela Petrobras. Cerca de 30 comunidades ou cidades foram visitadas, desde quilombos e aldeias indígenas até periferias das grandes capitais, passando por pequenas cidades ribeirinhas, litorâneas e sertanejas. Além de movimentar a cultura local oferecendo opções de educação e entretenimento, e fazer registros inéditos dessas manifestações, o projeto chamou a atenção dos órgãos oficiais trazendo visibilidade ao trabalho artístico desses grupos.
Essas comunidades - muitas vivendo em condições de miséria e exclusão - cultivam um enorme patrimônio artístico perpetuado pela oralidade. Um repertório precioso que ao mesmo tempo se funde e se particulariza esculpido pelo tempo/memória de seus artistas, mas que diante dos novos meios, torna-se suscetível ao esquecimento, ao preconceito, à dissolução. O registro dessas manifestações não só se dispõe a revelar os Brasis aos brasileiros, mas também permitir o retorno desses produtos às comunidades. O encontro das comunidades tradicionais com artistas contemporâneos traz o risco e a graça do improviso e da experimentação, e propõe a descoberta de uma terceira via para o fazer musical, na qual limites como cultura erudita e popular, tradição e contemporaneidade, sagrado e profano, devoção e diversão se desfazem.
Um dia típico de trabalho do grupo começava com as oficinas, pela manhã. À tarde, gravações em áudio e vídeo, e à noite, show da Barca, ora em praças, quadras, escolas, barracões ou mesmo no meio da rua, tendo como convidados as comunidades registradas. Nas cidades grandes, as mesmas ações foram feitas, mobilizando fundações, escolas de arte e teatros para a realização das oficinas e shows. O projeto despertou grande interesse da imprensa, resultando numa ampla cobertura dada por jornais e TVs de todo o país.
O imenso acervo reunido, que inclui 300 horas de áudio e vídeo e 6 mil fotos, mostra uma cultura popular exuberante e vigorosa, em que o talento dos artistas e a vitalidade dessas tradições revelam diversidade e identidade em um Brasil contemporâneo. A caixa Trilha, Toada e Trupé reúne o melhor desta colheita em dois CDs dedicados aos grupos e artistas regionais. O terceiro CD traz gravações da Barca em estúdio (antes e depois da viagem) e também algumas faixas ao vivo gravadas nos shows da viagem com participações diversas. Por fim, o DVD Turista Aprendiz apresenta a experiência toda do projeto num registro poético guiado mais uma vez por Mário de Andrade. É preparar ouvidos, vozes, pés e coração para trilhar conosco este caminho.
“Antes fizessem o que eu fiz, conhecessem o que amei, catando por terras áridas, por terras pobres, por zonas ricas, paisagens maravilhosas, essa única espécie de realidade que persisto através de todas as teorias estéticas, e que é a própria razão primeira da Arte: a alma coletiva do povo.”
Mário de Andrade
1. Marujo Du Mar (Tradicional – Adaptação: A Barca)
2. Coco dendê Trapiá (Tradicional – Adaptação: A Barca)
3. Ô Baiana (Tradicional – Adaptação: A Barca)
4. Manué (Tradicional – Adaptação: A Barca)
5. Mandei Fazer Uma Rede (Tradicional – Adaptação: A Barca)
6. Justino Grande (Tradicional – Adaptação: A Barca)
7. Batuque de Pirapora (Geraldo Filme)
8. Boi de Orerê (Fulô)
9. Mina Terê Terê (Tradicional – Adaptação: A Barca)
10. Doçu Semenomé (Tradicional – Adaptação: A Barca)
11. Terra Do Caranguejo (Raimundo “Tico”) / Aruê, Aruá (Tradicional – Adaptação: A Barca)
12. Marajó Já Teve Fama (Tradicional – Adaptação: A Barca)
13. Patrão, Prenda Seu Gado (Pixinguinha, Donga e João Da Baiana)
14. Ê Tum (Tradicional – Adaptação: A Barca)
15. Tá Lá Meu Boi (Tradicional – Adaptação: A Barca)
16. Vovó, Pra Quê Tu Qué O Didá ? (Totonho) / Vovó Não Qué Casca de Coco No Terreiro (Tradicional – Adaptação: A Barca)
17. O Sol Lá Vem (Tradicional – Adaptação: A Barca) / O Poeta Come Amendoim (Mário de Andrade)
18. Mestre Carlos / Nãnã-giê (Tradicional – Adaptação: A Barca)
19. Adeus Meu Lindo Amor (Tradicional – Adaptação: A Barca)
Músicos
Sandra Ximenez – Voz
Juçara Marçal – Voz
Marcelo Pretto – Voz
Renata Amaral – Baixo e Vocal
Lincoln Antonio – Piano, Fender Rhodes, Sanfona e Vocal
Chico Saraiva – Violão, Viola e Cavaquinho
Thomas Rohrer – Rabeca e Sax Soprano
Ligeirinho – Pandeiro, Congas, Tambu, Timba, Ganzás, Maracás, Matraca, Cuíca, Tamborim, Repique e Apito
Valquíria Roza – Pandeiro, Caixas, Tambu, Ganzás, Agogô, Triângulo, Ferro, Pratos, Apito e Vocal
Beto Teixeira – Ganzás
Participações Especiais
Aguinaldo Pereira – Guitarra em "Ê Tum".
Maurício Alves – Caixa e Ganzá em "Manué" e Tambu em "Mestre Carlos / Nãnã-giê.
André Magalhães – Bateria em Justino Grande, Matraca em Aruê, Aruá e Pratos em Marajó Já Teve Fama.
Produção
André Magalhães
Co-produção
Lincoln Antonio e Renata Amaral
APONTAMENTOS DE VIAGEM
“Me dá uma angústia atualmente imaginar em Brasil... É uma entidade creio que simbólica este país. Realidade, não me parece que seja não e quanto mais estudo e viajo as manifestações concretas do mito, mais me desnorteio e, entristecer, não posso garantir que me entristeço: me assombro.” Mário de Andrade, “Sinhô”, Táxi e Crônicas do Diário Nacional
Na aula “O artista e o artesão” (in O Baile das Quatro Artes), Mário de Andrade discute a importância do artesanato como parte da técnica artística que se pode ensinar, que é necessária para movimentar o material, pra que a obra de arte se faça. Técnica demais, porém, pode descambar para uma virtuosidade perigosa, vazia, ou para um formalismo excessivo, distanciando a obra de sua função social. É preciso que haja “um justo equilíbrio entre a arte e o social, entre o artista e a sociedade”. Portanto, é necessário que o artista adquira “uma severa consciência artística que o moralize”, envolvendo-se com os problemas imediatos do seu tempo. Essa dimensão social da arte não se localiza fora dela, mas no próprio fazer artístico.
O trabalho da Barca começa do aprendizado e movimentação de um material específico: a música vinda das tradições populares de todo o Brasil. São melodias, ritmos, vozes, timbres e versos de artistas anônimos, como finas camadas de areia que vão se sobrepondo ao longo do tempo. Sempre em transformação, a arte popular é genuinamente social, porque funcional, seja no sentido lúdico ou religioso. Ela precisa interessar, sempre. Na sua origem está a busca da comunicação entre os homens.
Baseado nesse desejo de comunicação, nos lançamos a essa tarefa nada simples de pesquisar, estudar e apresentar esse material, sempre atentos às suas características e exigências, porque “se o espírito não tem limites na criação, a matéria o limita na criatura”.
Turista Aprendiz, o show, é antes um ensaio, um jogo, um brinquedo. Não tem intenções formalistas. Foi produto desse desejo de mostrar, primeiramente ao público paulistano, algo da cultura popular brasileira, aquilo que nos diferencia e singulariza frente ao “concerto das nações”.
Em janeiro de 1999 a Barca viajou por cidades do interior do Pará e do Maranhão mostrando essa experiência e conhecendo muitas outras coisas que acabaram influenciando nosso trabalho e entrando para o repertório do grupo. Essa viagem, marcada pela vontade mútua de compartilhar experiências, nos deu uma visão muito clara do quanto a música brasileira é ao mesmo tempo múltipla e integradora. Tocando e cantando, a gente se entende.
Portanto, é confiando nesse ethos da música popular brasileira que a Barca continua essa grande viagem de aprendizado, chegando agora ao formato de CD.
REPERTÓRIO
CHEGANÇAS - No Brasil, a reunião de figuras e temas marítimos de origem ibérica deu origem à dança dramática conhecida como chegança em Sergipe, fandango nas Alagoas, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte, barca ou nau catarineta na Paraíba. Entre as cenas, o embarque, a despedida, a vida no mar, aventuras, a tempestade, a fome, até novamente alcançar “terras de Espanha e areias de Portugal”, para daí novo embarque e etc.
COCOS - Mário de Andrade anotou por volta de 300 cocos quando viajou ao Nordeste em 1928-9. O SOL LÁ VEM ele ouviu na Paraíba. De COCO DENDÊ TRAPIÁ ouviu duas versões, uma no Rio Grande do Norte e outra na Paraíba, e anotou: “este coco está espalhadíssimo e já deu maxixe. Creio mesmo que foi por este que se vulgarizou. ‘Vulgarizou’ em todos os sentidos, banalizado na rítmica batida das síncopas comuns. É pra se cantar com a máxima naturalidade, refrão elástico, sem dureza nem pressa, com ‘jeitinh’ que nem o da minha colaboradora, coqueira hábil, pajem do Bom Jardim”.
Da boca de Chico Antônio, célebre coqueiro também do Bom Jardim, engenho do Rio Grande do Norte, ouviu Ô BAIANA, que lembra o samba Escurinha de Geraldo Pereira. Chico Antônio foi uma das “comoções mais formidáveis” da vida de Mário de Andrade. Escreveu em seu diário de viagem O Turista Aprendiz: “Não sabe que vale uma dúzia de Carusos. Vem da terra, canta por cantar, por uma cachaça, por coisa nenhuma e passa uma noite cantando sem parada. O que faz com o ritmo não se diz! Enquanto os três ganzás se movem interminavelmente no compasso unário, na ‘pancada do ganzá’, Chico Antônio vai fraseando com uma força inventiva incomparável, tais sutilezas certas feitas que a notação erudita nem pense em grafar, se estrepa. E quando tomado pela exaltação musical, o que canta em pleno sonho, não se sabe mais se é música, se é esporte, se é heroísmo.” JUSTINO GRANDE e Ê TUM são outros dois cocos cantados por Chico Antônio.
MÚSICA DE FEITIÇARIA - Mário de Andrade reuniu sob este título uma conferência e as linhas de catimbó que recolheu em Natal, na Paraíba e em Pernambuco. A Missão de Pesquisas Folclóricas gravou dez anos depois a música do xangô, no Recife, do tambor de mina, em São Luís, do babaçuê e da pajelança, em Belém, além do catimbó, na Paraíba. Embora seja um bom painel da música nas religiões populares brasileiras, está longe de estar completo, como mostra a ausência do candomblé, da umbanda e do catolicismo.
Catimbó era o nome genérico de práticas religiosas que incluíam elementos da pajelança indígena, da feitiçaria e do espiritismo europeu, entre outros. Câmara Cascudo, que por vinte anos estudou o assunto e hospedou Mário de Andrade quando de sua visita a Natal, escreveu em seu Meleagro: no catimbó, “a ‘linha’ é o canto entoado pelo ‘mestre da mesa’ e continuado, através de sua boca, pelo ‘mestre’ invisível. A finalidade mágica do canto era indiscutida. Conservamos o ‘encanto’ de ‘em-canto’, no canto. Agindo diretamente sobre a emoção, criadora da energia psíquica, o canto uniformiza, sugere um estado, um nível de extrema receptividade. Todas as religiões o adotaram.”
MESTRE CARLOS era um dos “mestres invísiveis” mais populares nos catimbós do Nordeste. Protetor dos moços, casamenteiro, foi quem terminou de “fechar o corpo” de Mário de Andrade na última sexta-feira do ano de 1928, em Natal: “veio afinal o complacente Mestre Carlos e entre cruzes e defumações intermináveis do meu corpo e eu com os pés numa aguinha de bacia que simbolizava o mar, o fechamento de meu corpo se acabou por ele e pela bonita NÃNÃ-GIÊ. Sou obrigado a confessar que agora, passado os ridículos a que me sujeitei por mera curiosidade, estou tomado de lirismo, vou me deitar matutando com Nãnã-Giê, marvada! ficou um momentinho só na minha frente e foi-se embora, sarará, corada, boca de amor, corpo de bronze novo...” Nãnã, orixá nagô, velha senhora das águas paradas, ganha no catimbó o atributo Giê e já não é velha, é menina e trabalha no fundo do mar.
Tambor de mina é a religião popular do Maranhão, originária de duas casas centenárias de São Luís - a Casa das Minas-Jeje e a Casa de Nagô. Além dos voduns e orixás africanos, no tambor de mina baixam também outras linhas de encantados, como a gentilharia e os numerosos caboclos. Jorge de Iemanjá nos contou que “na mina desce todo o tipo de gente. Quando os orixás e voduns chegaram aqui viram que a terra já tinha dono: os índios e os caboclos”. E continua: “tentaram proibir, a polícia perseguiu e tudo, mas é uma religião muito popular, muito natural. Aqui o vodum desce e vai na igreja batizar a criança. Depois vai pra festa, bebe, come, dança e vai embora”. MINA TERÊ TERÊ foi gravada pela Missão, em 1938, num terreiro que não existe mais. Porém, esta doutrina ainda é cantada no Maranhão, sofrendo alterações de melodia e letra, conforme ouvimos com Seu Bibi, batazeiro da Casa de Nagô e D. Zizi.
Em Pirapemas, interior do Maranhão, conhecemos três figuras do tambor de mina com quem aprendemos muitas coisas. Seu Luís é filho de Xangô, tem como guia chefe Luís Reis de França, e como encarregado de serviço o caboclo Batatinha Croatá. As três raças guiam o velho sacerdote que chefia um terreiro de mina e uma tenda espírita, além de ser vidente e curandeiro. Sonha com um seminário onde se formariam os pais de santo, “é preciso saber muito para abrir um tambor”. Indagado sobre sua religião, perguntou, “pode começar do princípio?”, e nos contou, com incrível riqueza de detalhes, a história da Criação.
D. Gildete é filha-de-santo de Seu Luís... Seu Manuel, dono de um vozeirão treme-terra, é batazeiro dos mais solicitados da região, capaz de tocar dois tambores ao mesmo tempo, se faltar quem toque. Está na mina desde sempre, seu pai era chefe de terreiro e seu tio sabia ficar invisível quando queria. Nos apresentou ao juremal, morada dos caboclos, estância celeste herdada do catimbó, reino de onde vêm as melodias mais bonitas que conhecemos.
Cantada por Satiro Ferreira Barros, chefe do terreiro de babaçuê em Belém, MARAJÓ JÁ TEVE FAMA é uma pajelança de Mestre Marajó. Jorge de Iemanjá nos disse que “o babaçuê é uma estilização do tambor de mina aculturado no Pará”. D. Zizi conheceu Satiro e nos cantou algumas doutrinas de Barba Suêra, identificada com Santa Bárbara, chefe de todos os terreiros mina. Já esta pajelança parece aproximar-se das práticas do catimbó, que na mina assemelha-se à linha de cura.
MELODIAS DO BOI - O tema do boi é encontrado em todo o país. Bumba-meu-boi, bumba-boi ou boi-bumbá é sinônimo de grande festa no Norte. O refrão Ê MANUÉ é uma toada de boi-bumbá de Belém do Pará, que em nossa versão somou-se a uma embolada pernambucana e virou coco. Do recôncavo baiano vem o BOI DE ORERÊ, boi de roça, modalidade do aboio, que é o canto do vaqueiro, popular no mundo todo. Várias outras melodias do boi fazem parte do repertório da Barca, como as toadas da dança da mangaba do Maranhão, da banda de congos capixaba, o coco Boi Valeroso, e outras que ficaram pra próxima...
CARIMBÓ - o carimbó está para o Norte assim como o forró está para o Nordeste. É música de festa, onde se dança até o dia amanhecer. A Barca conheceu e tocou com alguns grupos de carimbó do Pará, como Os Brasas Vivas, de Terra Alta, Nova Zimba e Canarinho, de Maracanã, sempre com a formação de pau-e-corda, ou seja, tambores (os carimbós), ganzá, banjo, sopro e voz. ARUÊ, ARUÁ e SANTARÉM NOVO são toadas cantadas pelos Quentes da Madrugada, grupo de carimbó de Santarém Novo.
JONGOS - batuque de origem banto, “jongo” parece vir do termo quimbundo ndjongö que significa “criação, descendência” e que teria, aqui, tomado o sentido de “reunião de familiares”, segundo Nei Lopes em seu livro Bantos, malês e identidade negra.
Uma fogueira à beira da via Dutra e a roda de jongo se formando a partir dos tambores, afinados no fogo. Assim conhecemos o jongo no bairro de Tamandaré, em Guaratinguetá (SP), por ocasião das festas juninas. O ponto VOVÓ, PRA QUE TU QUÉ O DIDÁ ? é de Totonho, uma das figuras centrais do jongo de Guará. VOVÓ NÃO QUER CASCA DE COCO NO TERREIRO é a versão da comunidade de Tamandaré para um ponto popular, talvez já centenário, também encontrado no samba de roda.
SAMBAS - samba de roda, samba rural, partido alto, samba-maxixe, são muitas as manifestações do nacionalíssimo samba. Oriundo dos batuques banto, desenvolveu-se no Brasil em várias direções. Uma delas vem da Bahia para as festas na casa de Tia Ciata, no Rio de Janeiro, onde se reunia a elite cultural negra da virada do século. Depois se organiza no Largo do Estácio, sobe o morro e entra no repertório dos músicos populares que se profissionalizavam nos teatros, nas gravações e no rádio, até chegar nos grandes nomes da década de trinta, quando o gênero se estabeleceu como conhecemos até hoje. A antiga chula raiada PATRÃO, PRENDA SEU GADO assumiu sua identidade como samba ao receber novo arranjo das mãos de Pixinguinha, Donga e João da Baiana, precursores do gênero.
Uma outra direção, a do samba paulista, começa a ser traçada. O samba BATUQUE DE PIRAPORA, de Geraldo Filme, conta um pouco a história do gênero em São Paulo, onde o elemento negro somou-se a cultura cabocla ou caipira. Em festas como a de Bom Jesus de Pirapora, às margens do rio Tietê, reuniam-se romeiros e batuqueiros de diversas cidades do estado. Maria Esther, a “dona do samba” em Pirapora, nos ensinou alguma coisa deste samba rural, ou “samba do tempo antigo”, como gosta de dizer. Aos 75 anos de idade e mais de 60 de samba, nos alertou: “idade não regula, o que conta é o rebolado”.
1. Minha Gente Venha Ver
2. Mestre Rei dos Mestres Chegou
3. A Sala Tá Cheia
4. Tapuia Jacarandá
5. Balão de Ouro
6. Amor Com Guerreiro
7. Dindinha Luzia
8. No Terreiro de Vovó Luzia
9. Tapindaré
10. Alumiou
11. Eu Só Vim Aqui Porque Fui Chamado
12. Tombador
13. Ana Mora Na Cacimba
14. Vassourá
15. Caranguejinho
16. Jurarazinho
17. Guará Mirim
18. Periquitinho
19. Lá Na Aldeia
20. Eu Sou Bem Pequenininha
21. A Mamãe Tá Chorando
22. Menina Da Gameleira
23. Flor Jurema
24. Chica Nana Painana
25. Camisa de Renda
26. O Tempo Foi O Meu Mestre
27. Miguel
28. O Baião Já Vai Fechar
Todas as faixas são de domínio público, adaptadas pela Casa Fanti Ashanti e A Barca.
Músicos
CASA FANTI ASHANTI
Babalorixá Euclides Menezes Ferreira TALABYAN – voz e cabaça
Ebâmi Anunciação Menezes IKAREJYI – voz e castanholas
Ekedi Maria José Menezes ALADÊYI – voz e castanholas
Graça Reis de Menezes – voz e cabaça
Bartira Menezes Stanislaw – voz e castanholas
Ogan Henrique Menezes OSSONYILÉ – pandeiro e voz
Téo Menezes – percussão
A BARCA
Juçara Marçal – voz e castanholas
Sandra Ximenez – voz e castanholas
Marcelo Pretto – voz e pandeiro
Thomas Rohrer – violino e rabeca
Lincoln Antonio – piano e sanfona
Renata Amaral – baixo e voz
Chico Saraiva – violão e cavaquinho
Ricardo Mendonça – percussão e cavaquinho
Ligeirinho – pandeiro
Direção e produção musical
Renata Amaral e Lincoln Antonio
Produção fonográfica
CPC-UMES
O CD Baião de Princesas registra o encontro da Barca com a comunidade da Casa Fanti-Ashanti, cuja cultura há muito documentamos em gravações, fotos e entrevistas, já rendendo o CD Tambor de Mina na virada pra mata. A convivência com Dindinha e Zezé, irmãs de Pai Euclides que anualmente visitam São Paulo, e com Graça, Bartira, Henrique e Téo, da mesma família de sangue e de santo que moram na cidade, foi afirmando essa musicalidade no repertório do grupo, e alguns integrantes da Barca foram tocar e dançar no terreiro, tomando parte no Baião realizado em 2000.
Ao contrário do CD anterior, Turista aprendiz, onde numa viagem pelo Brasil mapeávamos uma grande quantidade de gêneros do sudeste ao norte do país, atentando para a diversidade dessas manifestações reunidas pelo nosso olhar, desta vez nosso foco se atém em um recorte bem específico: o repertório de um único ritual anual de um terreiro de São Luís, Maranhão, apontando a diversidade dentro deste universo aparentemente tão reduzido. Com a colaboração do Espaço Cachuêra!, gravamos 35 músicas diferentes, ao vivo, em 4 sessões, com a presença de Pai Euclides e sua família.
Acreditando na cultura tradicional como material de formação do artista brasileiro e matéria-prima para uma criação artística universal, a Barca é um grupo paulista que trabalha com a pesquisa e a movimentação da cultura popular brasileira, buscando uma reflexão abrangente sobre o fazer artístico e suas responsabilidades estéticas e sociais. Produzidas muitas vezes em situações de conflito, miséria e exclusão social, é assombrosa a força criativa e a elaboração estética dessas manifestações. Indissociáveis, dança, música, poesia e plasticidade, exercem papel fundamental na organização das relações sociais e na formação ética dessas comunidades, sendo material consagrado de formação musical, corporal e social do indivíduo, e ferramenta de reflexão e afirmação de sua identidade.
O encontro de uma comunidade tradicional com artistas contemporâneos traz o risco e a graça do improviso e da experimentação, a troca e a descoberta de uma terceira via para o fazer musical, onde limites como cultura erudita e popular, tradição e contemporaneidade, sagrado e profano, devoção e diversão se desfazem. Esses cantos são melodias e ritmos matrizes da nossa música brasileira, arte contemporânea e atemporal que se une à religião como um caminho de duas mãos onde a arte é ferramenta e veículo para a espiritualidade, e a religião veicula e harmoniza a vocação artística, permitindo aos iniciados exercerem seus talentos de músicos, dançarinos, designers, cantores excelentes que são.
A Casa Fanti Ashanti, em atividade desde 1954, é um verdadeiro centro de cultura popular maranhense, onde num calendário anual repleto, se realizam com capricho e rigor uma grande quantidade de manifestações sagradas e profanas como os toques de Tambor de Mina, Candomblé, Cura/Pajelança, Baião de Princesas, Samba Angola, Mocambo, Bancada, Avaninha, Encruzo, tambor de choro, almoço dos cachorros, tambor de crioula, tambor de taboca, bumba-boi de baixada, festa do Divino, carimbó de caixa, queimação de palhinhas, ladainhas, procissões e inúmeros outros rituais internos.
Pai Euclides Talabyian, chefe da casa, é um babalorixá internacionalmente conhecido, comendador da república, autor de quatro livros sobre cultura afro-brasileira e iniciador de dezenas de pais de santo espalhados por todo o Brasil. Chefia com esmero a enorme família dos filhos, sobrinhos e netos de santo, de sangue e de afinidade, que junto com os voduns e encantados que carregam engendram uma convivência social que harmoniza de maneira tão complexa quanto natural os planos social, espiritual e artístico.
O ritual do Baião
O Terreiro do Egito foi fundado por Massinokou Alapong em dezembro de 1864 , tendo como primeira festa o ritual do Baião de Princesas. Devido à perseguição policial da época, que se estendeu até os anos 40 em São Luís, o ritual se disfarçava de festa profana, onde os tambores davam lugar a instrumentos como o violino – o maestro do conjunto - sanfona, violão, cavaquinho ou bandolim e os adufes, pandeiros sem platinelas utilizados na época.
As mulheres se enfeitam como para um baile, com saias coloridas, xales, leques, muitas jóias, colares, fitas e outros adornos, além das mantas de miçangas que vestem ao receber suas encantadas. Usam penteados elaborados e tocam castanholas. Extremamente feminino, neste ritual só as mulheres dançam, e as encantadas que se manifestam também são em sua maioria princesas, rainhas, meninas, mães-d’água, ainda que como numa verdadeira festa orixás e voduns se manifestassem para assistir à dança. Considerado como da linha de cura ou de água doce, se difere da cura ou pajelança por ter rituais internos secretos que antecedem a festa pública, quando na cura todos os procedimentos e ferramentas rituais estão expostos na mesa do pajé.
Obarí, Bela Infância, Belinha, Menina da Gameleira ou do Caxangá são alguns dos nomes pelos quais é conhecida Nôche Dantan, vodum chefe do Baião, que se abre e fecha invocando São Gonçalo do Amarante e Rei dos Mestres, outro nome do vodum Liçá – relacionado a Oxalá - que é o responsável pelo andamento do ritual.
Meu São Gonçalo venha ver festa de encantaria
Venha ver meu Mestre Rei dos Mestres venha ver a estrela que nos guia.
Encantados no mar, nas matas, ilhas, croas, árvores, rios, pedras e serras, formam uma outra geografia maranhense que elimina os limites do espaço físico e mítico. A praia dos Lençóis, a Ilha dos Caranguejos e a pedra de Itacolomi são locais de morada de encantados onde todo mundo vai passear. Transformam o tempo cronológico em “social”, onde figuras das mais diferentes épocas e países se encontram e se relacionam. Numa democracia espiritual sem fronteiras, caboclos, princesas, índios, ciganas, espanhóis, portugueses, turcos, franceses, italianos, havaianas, mães d’água, macacos, peixes, aves, caranguejos, jurarás e até conchinhas realizam plenamente no plano espiritual a miscigenação étnica brasileira, com a naturalidade desconcertante dessa religião voltada para a ancestralidade.
No Terreiro do Egito a festa se iniciava na manhã do dia 12 de dezembro, seguia a tarde varando a noite toda, se encerrando apenas na tarde do dia 13, dia de S. Luzia, quanto começava então o toque de Tambor de Mina para o Rei dos Mestres. Ao longo do dia, crianças e pessoas da assistência, que sempre era muito numerosa, também eram convidadas a dançar, “enchendo a roda” enquanto algumas dançantes paravam para descansar.
“Em tempo de festa, quando o sol da manhã cruzava os céus do Egito, no momento exato em que se cantava para ao Rei dos Mestres, todos os presentes saíam do barracão para o pátio, onde ficava imalé, o pau-da-paciência. Olhando-se para sua extremidade, lá no alto, viam-se as bandeiras hasteadas na montanha, diante de uma grande campina que se estendia até a beira da praia do Cajueiro. Era exatamente nesse momento que acontecia a miscigenação espiritual naqueles negros, que entravam em transe para exibir suas danças, crenças e magias, contagiando os freqüentadores com as vibrações positivas que os ashantis emanavam, gozando da liberdade de estar num verdadeiro quilombo. Os negros desse terreiro tinham o dom de compositores no momento de seus transes, manifestando-se espontaneamente... “
Euclides Talabyan, em Tambor de Mina em Conserva (2002)
HISTÓRIAS DE ENCANTARIA
O violino de Manoel Garcez
Manoel Garcez, o Manoel Piloto, que muitas vezes tocava o violino no Baião do Egito, era curador bruxo afamado do Igapara, terra onde Pai Euclides abriu seu primeiro barracão, aos 17 anos. Festeiro e beberrão, tocava violino e outros instrumentos em bailes, mas quando queria beber ou descansar, para não parar o baile, pedia ao dono da casa um pano branco, com o qual cobria o violino que continuava tocando sozinho, o arco se movendo sob o pano.
Dizia-se que quem tocava o violino era Alonso, seu diabo particular, que certa vez fez aparecer a Pai Euclides como um homem de pele azul levemente cintilante e terno caqui. Esse violino foi dado por Manuel Piloto antes de morrer a Corre Beirada, encantado de Pai Euclides.
O navio de D. João
O Terreiro do Egito ficava sobre o Rio Itaqui, porto importante próximo ao mar, numa área de antigos quilombos. Uma das grandes atrações do Baião de Princesas, que deslocava dezenas de pessoas para assistir à festa, era a visita do Navio Encantado de D João. Todos os anos, esse navio chegava ao Egito no dia 12 de dezembro, e lá permanecia ancorado, à vista de todos, por três ou quatro dias. Sua chegada e partida eram anunciadas pelo vodum chefe da casa, e cumpridas à risca.
Na hora anunciada, o navio se aproximava deixando ver em seu interior uma grande movimentação. A distância era suficiente para se ver a decoração do navio, suas bandeirolas e sua iluminação, que chegava a clarear a encosta do terreiro durante a noite. Via-se então pessoas saltando do navio e pegando pequenas canoas a remo, e enquanto essas canoas se aproximavam da margem, a música já soava no barracão, e as dançantes iam entrando em transe com os encantados chegados, principalmente os nobres, reis e princesas como D. João e sua família, D. Carlos da Gama, Rei Sebastião, D. Luís Rei de França e Manoel Pretinho, o piloto do navio.
Ao término dos festejos, o navio ia embora, mas não se podia vê-lo sumir no horizonte. Ele se afastava cerca de trezentos metros em direção ao mar, e então afundava lentamente nas águas do Itaqui. Sua última aparição foi em 1978, um ano antes da extinção do terreiro centenário.
Coordenação – Renata Amaral
Direção Musical – Lincoln Antonio e Renata Amaral
Produção Musical – André Magalhães
Direção De Produção – Patrícia Ferraz
Produção Nordeste – Amélia Cunha
Produtores Locais
Assistente De Produção – Bruna Zagatto e Nathalia Magalhães
JProjeto Gráfico – André Hosoi e Fabiana Queirolo
Fotos – André Magalhães, Angélica Del Nery, Ernani Napolitano, Marcelo Pretto, Olindo Estevan, Patrícia Ferraz, Renata Amaral
Ilustração Em Tecido – Ionit Zilberman
Fotos Ilustração Em Tecido – Diego Rinaldi
Desenhos – Marcelo Pretto
Edição De Textos – Juçara Marçal, Lincoln Antonio, Renata Amaral
Tradução – Augusto César/p>
Assessoria De Imprensa – Ecoar Escritório De Comunicação e Artes, Railídia Carvalho, Viviana Pereira
Motoristas – Flecha e Bessa
Em Memória De Ricardo Mendonça e Ney Mesquita
O projeto Turista Aprendiz, do grupo A Barca, percorreu de dezembro de 2004 a fevereiro de 2005 mais de 10 mil km por 9 estados brasileiros, do Pará a São Paulo. Com patrocínio da Petrobras, cerca de 40 comunidades tradicionais foram visitadas, desde quilombos e aldeias indígenas até periferias das grandes capitais, pequenas cidades ribeirinhas, litorâneas e sertanejas.
Além de movimentar a cultura local realizando oficinas e shows gratuitos nos mais diversos espaços, A Barca fez registros inéditos em áudio e vídeo de diversas manifestações culturais, chamando a atenção dos órgãos oficiais e trazendo visibilidade ao trabalho artístico dessas comunidades. Gravado com excelente qualidade técnica, o acervo reunido inclui 300 horas de áudio e vídeo e 6 mil fotos, e mostra uma cultura popular exuberante e vigorosa, onde o talento dos artistas e a vitalidade das tradições revelam diversidade e identidade em um Brasil contemporâneo.
Parte desse material foi finalizado na caixa Trilha, Toada e Trupé, uma coletânea de três CDs e um DVD documentário que revelam pequena parte destes registros. A íntegra destas gravações foi duplicada e devolvida aos grupos, resultando já em três CDs produzidos por iniciativa das próprias comunidades: Carimbó de Santarém Novo (PA), patrocinado também pela Petrobras; Sítio de Pai Adão – ritmos africanos no Xangô do Recife, apoiado pela FUNDARPE; e União dos Artistas da Terra da Mãe de Deus, reunindo grupos de Reisado, Guerreiro e Rabeca de Juazeiro do Norte (CE).
Com a Coleção Turista Aprendiz, mais sete CDs e um DVD documentário trazem a público uma parte significativa deste rico material, apresentando algumas das comunidades que se destacaram por seu repertório artístico, o talento de seus músicos e cantores e a força de suas tradições. O DVD contém sete documentários em curta metragem apresentando cada uma das sete comunidades retratadas nos CDs.
Esses gêneros são as manifestações através das quais o povo brasileiro veicula e harmoniza sua vocação artística, sua corporalidade, sua espiritualidade. De enorme sofisticação e força criativa, cada brasileiro que se depara com essas manifestações experimenta inevitavelmente uma redescoberta da própria identidade e uma surpresa diante do alto nível de elaboração estética desses artistas. Por seu papel na organização social e na formação ética dessas comunidades, esse material é ainda instrumento precioso para a formação corporal, social e cultural do indivíduo. Música contemporânea e atemporal.
“Do fundo das imperfeições de tudo quanto o povo faz, vem uma força, uma necessidade que, em arte, equivale ao que é a fé em religião. Isso é que pode mudar o pouso das montanhas.”
Mário de Andrade
1. Abertura (A Barca) – Participação de Elza de Caiana dos Crioulos (PB)
2. Cobra Salamanta (Tradicional – Adaptação: A Barca)
3. Na Reunida Flor Do Campo Chegou (Emilio Silva)
4. Mucura (Tradicional – Adaptação: A Barca)
5. Estrela Guia (Totonho)
6. Dona Maria (Tradicional – Adaptação: A Barca)
7. Dona Mariquinha (Mestre Verdelinho)
8. Galho Da Limeira (Tradicional) – Participação de Mestre Verdelinho (Al)
9. Oleleô Cauã (Tradicional) – Participação de Biu Roque e Coco Da Zona Da Mata (PE)
10. Bichinho Canário (Tradicional)
11. Cirandeira (Tradicional – Adaptação: A Barca)
12. São João (Tradicional) / Santo Antônio (Maria José Menezes)
13. Maracá de Prata (Humberto de Maracanã) – Participação de Humberto de Maracanã (MA)
14. Senhor São João (Humberto de Maracanã) – Participação de Humberto de Maracanã (MA)
15. Sol Nascente (Tradicional)/ Estrela Brilhante Quando Sai (Mestre Walter) – Participação de Mestre Walter França (PE)
16. Ararinha (Tradicional – Adaptação: A Barca) – Participação de Manoel Batazeiro (MA)
17. Guajira Espúria (Tradicional – Adaptação: A Barca)
18. Santa Bárbara (Tradicional – Adaptação: A Barca)
19. Elemi Oxum (Tradicional – Adaptação: A Barca)
20. Ô Linda (Tradicional – Adaptação: A Barca)
21. O Forofô (Tradicional – Adaptação: A Barca)
22. Tambô Zuô (Tradicional – Adaptação: A Barca)
23. Caboco Roxo (Tradicional – Adaptação: A Barca) – Participação de Ligeirinho
24. Ciranda Por despedida (Tradicional) – Participação Odete de Pilar
Gravado no Estúdio Zabumba entre maio de 2004 e novembro de 2005 por André Magalhães.
Faixas ao vivo gravadas entre dezembro de 2004 e janeiro de 2005 por Ernani Napolitano.
“Tambô zuô” gravado ao vivo no Centro Cultural São Paulo por Ernani Napolitano em 1999.
Músicos
André Magalhães – bateria e percussão
Ari Colares – percussão
Chico Saraiva – violão
Juçara Marçal – voz
Lincoln Antonio – piano, teclado, sanfona e pífano
Marcelo Pretto – voz
Renata Amaral – baixo, vocal e flauta contralto
Sandra Ximenez – voz
Thomas Rohrer – rabeca e saxofone
Assistentes
Felipe Julian e Felipe Magalhães
Mixagem e masterização
André Magalhães
Mixagens adicionais
Beto Mendonça e Fábio Martins
Este CD foi lançado originalmente na caixa Trilha, toada e trupé, resultado da viagem da Barca por 9 estados brasileiros.
A caixa Trilha, Toada e Trupé, lançada em 2006 reúniu o melhor da colheita em dois CDs dedicados aos grupos e artistas regionais, um DVD apresentando toda a viagem num registro poético guiado mais uma vez por Mário de Andrade, e o CD TRILHA, trazendo gravações da Barca em estúdio (antes e depois da viagem) e também algumas faixas ao vivo gravadas nos shows da viagem com participações diversas. Este é o CD que é agora lançado separadamente e acrescido de uma faixa bonus inédita, gravada ao vivo em show ainda no início do grupo em 1999.
1. Andorinha do Céu (Acústica)
Gravado no estúdio Arsis em São Paulo, por Adonias Jr.
Mixado e Masterizado por André Magalhães
Distribuição: Tratore
Músicos
André Magalhães – bateria e percussão
Ari Colares – percussão
Chico Saraiva – violão
Laeticia Madsen – voz
Lincoln Antonio – piano
Marcelo Pretto – voz
Renata Amaral – baixo
Participações
Dindinha – voz solo
Zezé Menezes – voz
Graça Reis – voz
Bartira Menezes – voz
1. Abertura (A Barca) – Participação de Elza de Caiana dos Crioulos (PB)
2. Cobra Salamanta (Tradicional – Adaptação: A Barca)
3. Na Reunida Flor Do Campo Chegou (Emilio Silva)
4. Mucura (Tradicional – Adaptação: A Barca)
5. Estrela Guia (Totonho)
6. Dona Maria (Tradicional – Adaptação: A Barca)
7. Dona Mariquinha (Mestre Verdelinho)
8. Galho Da Limeira (Tradicional) – Participação de Mestre Verdelinho (Al)
9. Oleleô Cauã (Tradicional) – Participação de Biu Roque e Coco Da Zona Da Mata (PE)
10. Bichinho Canário (Tradicional)
11. Cirandeira (Tradicional – Adaptação: A Barca)
12. São João (Tradicional) / Santo Antônio (Maria José Menezes)
13. Maracá de Prata (Humberto de Maracanã) – Participação de Humberto de Maracanã (MA)
14. Senhor São João (Humberto de Maracanã) – Participação de Humberto de Maracanã (MA)
15. Sol Nascente (Tradicional)/ Estrela Brilhante Quando Sai (Mestre Walter) – Participação de Mestre Walter França (PE)
16. Ararinha (Tradicional – Adaptação: A Barca) – Participação de Manoel Batazeiro (MA)
17. Guajira Espúria (Tradicional – Adaptação: A Barca)
18. Santa Bárbara (Tradicional – Adaptação: A Barca)
19. Elemi Oxum (Tradicional – Adaptação: A Barca)
20. Ô Linda (Tradicional – Adaptação: A Barca)
21. O Forofô (Tradicional – Adaptação: A Barca)
22. Tambô Zuô (Tradicional – Adaptação: A Barca)
23. Caboco Roxo (Tradicional – Adaptação: A Barca) – Participação de Ligeirinho
24. Ciranda Por despedida (Tradicional) – Participação Odete de Pilar
1. tava dormindo o tambor me chamou – REDANDÁ (SP)
2. pontos de candombe – CANDOMBE DE JUSTINÓPOLIS (MG)
3. minha santa graça – MOÇAMBIQUE DE JUSTINÓPOLIS (MG)
4. samba e dança crioula – MOÇAMBIQUE DE JUSTINÓPOLIS (MG)
5. encomendação de almas - CANTADEIRAS DO SOUZA (MG)
6. cantigas de roda – CANTADEIRAS DO SOUZA (MG)
7. minha sabiá, minha zabelê - PAVÃO DOURADO (BA)
8. rala o coco, siriri – PAVÃO DOURADO (BA)
9. rapaz solteiro da perfumaria – PAVÃO DOURADO (BA)
10. cantigas de roda - TUNINHA E LUZIA (BA)
11. pisa morena – KARIRI XOCÓ (AL)
12. acauã mais bonita – KARIRI XOCÓ (AL)
13. vadiemo n´Aruanda – KARIRI XOCÓ (AL)
14. ê lagoana – KARIRI XOCÓ (AL)
15. eu não sou daqui – QUIXABEIRA (BA)
16. bateu asa e cantou o galo / Menino Jesus da Lapa - REISADO DE MESTRE ALDENIR (CE)
17. Romance da Nau Catarineta – BARCA SANTA MARIA (PB)
18. meus senhores oficiais – CHEGANÇA SILVA JARDIM (AL)
19. a fragata corre no sereno mar – CHEGANÇA SILVA JARDIM (AL)
20. – NELSON DA RABECA (AL)
21. desperta rabeca velha - ZÉ OLIVEIRA (CE)
22. martelo agalopado - MESTRE VERDELINHO (AL)
23. canoa o vento que me levar - MANERO PAU DE MESTRE CIRILO (CE)
24. Maria Bonita - MANERO PAU DE MESTRE CIRILO (CE)
25. abre-te jurema – JUREMA DE DONA MARIA (PB)
26. besouro mangangá – JUREMA DE DONA MARIA (PB)
27. beira mar - TENDA S O JOSÉ (MA)
28. volta do mundo - TENDA SÃO JOSÉ (MA)
29. lá vai meu boi balançando suas fitas - MESTRE FABICO (PA)
30. alegria do vaqueiro - BOI BUMBÁ PAI DA MALHADA (PA)
31. reunida - BOI BRILHO DA SOCIEDADE (MA)
32. urrou - BOI BRILHO DA SOCIEDADE (MA)
33. adeus do príncipe - REI CARIONGO (PA)
1. levanta a poeira – QUIXABEIRA (BA)
2. casa barata - CARIMBÓ OS QUENTES DA MADRUGADA (PA)
3. quando eu morrer – CARIMBÓ OS QUENTES DA MADRUGADA (PA)
4. coco de roda – CAIANA DOS CRIOULOS (PB)
5. na terça fui cantar coco / na vargem de Goiana – COCO DA ZONA DA MATA (PE)
6. meu bombo é gemedor - COCO DA ZONA DA MATA (PE)
7. cana caiana fulô de cubalelê - COCO DA ZONA DA MATA (PE)
8. cordão de ouro, cordão de prata - COCO DA ZONA DA MATA (PE)
9. dei um beijo em Carminha – ODETE DE PILAR (PE)
10. bota barro na parede – ODETE DE PILAR (PE)
11. eu sei o que achei comigo – ODETE DE PILAR (PE)
12. abre-te sede de ouro - GUERREIRO DE MESTRA MARGARIDA (CE)
13. boa noite todos - GUERREIRO DE MESTRA MARGARIDA (CE)
14. barca nova - REISADO DOS IRMÃOS (CE)
15. partilha do boi – REISADO DOS IRMÃOS (CE)
16. galopada – BANDA CABAÇAL DE MESTRE MIGUEL (CE)
17. Talaia - BANDA CABAÇAL DE MESTRE MIGUEL (CE)
18. baião - RABEQUEIROS DA PARAÍBA
19. guerra, perré, tesoura, baiano – CABOCLINHOS CAHETÉS (PE)
20. Toada para Ogum - SÍTIO DE PAI ADÃO (PE)
21. Toada para Obaluaiê - SÍTIO DE PAI ADÃO (PE)
22. Toada para Xangô - SÍTIO DE PAI ADÃO (PE)
23. pai João Congo - CONGO DO QUILOMBO FRECHAL (MA)
24. catita é unxila - CONGO DO QUILOMBO FRECHAL (MA)
25. se o tatu subesse – COCO DE PIRAPEMAS (MA)
26. quem quiser comer mangaba – MANGABA DE PIRAPEMAS (MA)
27. vim salvar São Benedito -TAMBOR DE CRIOULA DE TABOCA DA CASA FANTI ASHANTI (MA)
28. rainha soube o que fez -TAMBOR DE CRIOULA DE TABOCA DA CASA FANTI ASHANTI (MA)
29. baiei na Bahia - TAMBOR DE CRIOULA DE ELIÉSIO (MA)
30. Nganga Muquixe – CONGO DE JUSTINÓPOLIS (MG)
31. saravá Zumbi - JONGO DO TAMANDARÉ (SP)
32. quando eu saí lá de casa - JONGO DO TAMANDARÉ (SP)
33. mãe preta - JONGO DO TAMANDARÉ (SP)
34. ainé Angorô sinhô – REDANDÁ (SP))
35. ará ará ê – REDANDÁ (SP)
36. vapor de Cachoera – QUIXABEIRA (BA)
37. hoje é festa na Mangueira – QUIXABEIRA (BA)
CDs TOADA e TRUPÉ
gravação
ANDRÉ MAGALHÃES
ERNANI NAPOLITANO
edição e mixagem
ANDRÉ MAGALHÃES
pré-edição
LINCOLN ANTONIO
RENATA AMARAL
masterização
FELIPE JULIÁN
CD TRILHA
ANDRÉ MAGALHÃES - bateria e percussão
CHICO SARAIVA - violão e cavaquinho
JUÇARA MARÇAL - voz
LINCOLN ANTONIO - piano, teclado, sanfona e pífano
MARCELO PRETTO - voz
RENATA AMARAL - baixo, vocal e flauta contralto
SANDRA XIMENEZ - voz
THOMAS ROHRER - rabeca e saxofone
gravado no Estúdio Zabumba entre maio de 2004 e novembro de 2005 por ANDRÉ MAGALHÃES
assistentes
FELIPE JULIÁN
FELIPE MAGALHÃES
faixas ao vivo gravadas entre dezembro de 2004 e janeiro de 2005 por ERNANI NAPOLITANO
mixagem
ANDRÉ MAGALHÃES
mixagens adicionais e masterização
BETO MENDONÇA
FÁBIO MARINS
De dezembro de 2004 a fevereiro de 2005, a Barca viajou mais de 10.000 km por 9 estados brasileiros, do Pará a São Paulo, através do Projeto Turista Aprendiz, patrocinado pela Petrobras. Cerca de 30 comunidades ou cidades foram visitadas, desde quilombos e aldeias indígenas até periferias das grandes capitais, passando por pequenas cidades ribeirinhas, litorâneas e sertanejas. Além de movimentar a cultura local oferecendo opções de educação e entretenimento, e fazer registros inéditos dessas manifestações, o projeto chamou a atenção dos órgãos oficiais trazendo visibilidade ao trabalho artístico desses grupos.
Essas comunidades - muitas vivendo em condições de miséria e exclusão - cultivam um enorme patrimônio artístico perpetuado pela oralidade. Um repertório precioso que ao mesmo tempo se funde e se particulariza esculpido pelo tempo/memória de seus artistas, mas que diante dos novos meios, torna-se suscetível ao esquecimento, ao preconceito, à dissolução. O registro dessas manifestações não só se dispõe a revelar os Brasis aos brasileiros, mas também permitir o retorno desses produtos às comunidades. O encontro das comunidades tradicionais com artistas contemporâneos traz o risco e a graça do improviso e da experimentação, e propõe a descoberta de uma terceira via para o fazer musical, na qual limites como cultura erudita e popular, tradição e contemporaneidade, sagrado e profano, devoção e diversão se desfazem.
Um dia típico de trabalho do grupo começava com as oficinas, pela manhã. À tarde, gravações em áudio e vídeo, e à noite, show da Barca, ora em praças, quadras, escolas, barracões ou mesmo no meio da rua, tendo como convidados as comunidades registradas. Nas cidades grandes, as mesmas ações foram feitas, mobilizando fundações, escolas de arte e teatros para a realização das oficinas e shows. O projeto despertou grande interesse da imprensa, resultando numa ampla cobertura dada por jornais e TVs de todo o país.
O imenso acervo reunido, que inclui 300 horas de áudio e vídeo e 6 mil fotos, mostra uma cultura popular exuberante e vigorosa, em que o talento dos artistas e a vitalidade dessas tradições revelam diversidade e identidade em um Brasil contemporâneo. A caixa Trilha, Toada e Trupé reúne o melhor desta colheita em dois CDs dedicados aos grupos e artistas regionais. O terceiro CD traz gravações da Barca em estúdio (antes e depois da viagem) e também algumas faixas ao vivo gravadas nos shows da viagem com participações diversas. Por fim, o DVD Turista Aprendiz apresenta a experiência toda do projeto num registro poético guiado mais uma vez por Mário de Andrade. É preparar ouvidos, vozes, pés e coração para trilhar conosco este caminho.
“Antes fizessem o que eu fiz, conhecessem o que amei, catando por terras áridas, por terras pobres, por zonas ricas, paisagens maravilhosas, essa única espécie de realidade que persisto através de todas as teorias estéticas, e que é a própria razão primeira da Arte: a alma coletiva do povo.”
Mário de Andrade
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